Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Morre bebê resgatada do útero da mãe morta após bombardeio em Gaza

Recém-nascida havia sobrevivido a ataque de Israel que atingiu a casa de sua família, em Rafah, no último sábado

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Uma bebê que foi retirada do útero de sua mãe após um ataque de Israel na Faixa de Gaza morreu com apenas alguns dias de vida, afirmou nesta sexta-feira (26) o médico que estava cuidando dela.

Sabreen al-Rouh nasceu no último domingo (21), pouco depois da meia-noite, por meio de uma cesariana de emergência em um hospital de Rafah, no sul de Gaza. Na ocasião, as imagens da equipe médica ressuscitando a bebê com uma bomba manual que empurrava ar para seus pulmões tomou as redes sociais.

Médico palestino cuida da bebê de Sabreen al-Sakani, que chegou em estado crítico a um hospital de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, depois de ter sido gravemente ferida na cabeça e no abdômen em um ataque aéreo israelense - Mohammed Abed - 20.abr.2024/AFP

Sua mãe, Sabreen al-Sakani estava grávida de 30 semanas quando foi gravemente ferida por um ataque aéreo que atingiu a casa de sua família na noite do último sábado (20). Ela foi levada às pressas para o hospital Emirati, mas morreu em decorrência dos ferimentos, assim como seu marido, Shukri, e sua filha de 3 anos, Malak, que foi quem escolheu o nome da irmã.

"Ela estava feliz que sua irmã estava vindo ao mundo", disse Rami Al-Sheikh, tio das duas meninas, quando nasceu Rouh, que significa "alma". Ele sentou-se ao lado do túmulo da bebê nesta sexta.

"Rouh se foi, meu irmão, sua esposa e filha se foram, seu cunhado e a casa que nos unia se foram", disse ele à agência de notícias Reuters. Al-Sheikh disse que visitava o hospital todos os dias para verificar a saúde da sobrinha.

Ela nasceu com 1,4 kg e foi colocada em uma incubadora ao lado de outro recém-nascido. "Bebê da mártir Sabreen al-Sakani", lia-se em uma fita em seu peito. Ela ficaria no hospital por um período de três a quatro semanas, segundo Mohammad Salama, chefe da unidade neonatal de emergência do Hospital Emirati.

"Depois disso, veremos para onde essa criança irá, para a família, para a tia ou tio ou avós. Aqui está a maior tragédia. Mesmo que essa criança sobreviva, ela nasceu órfã", afirmou ele na semana passada. "Esta criança deveria estar no ventre da mãe neste momento, mas ela foi privada desse direito."

Ela morreu na quinta-feira (25). "Eu e outros médicos tentamos salvá-la, mas ela morreu. Para mim, pessoalmente, foi um dia muito difícil e doloroso", disse ele à Reuters por telefone. "Ela nasceu quando seu sistema respiratório não estava maduro e seu sistema imunológico estava muito fraco, e foi isso que a levou à morte. Ela se juntou à sua família como mártir."

"A avó pediu a mim e aos outros médicos para cuidarmos da bebê, porque ela seria alguém que manteria viva a memória de sua mãe, seu pai e sua irmã. Mas foi a vontade de Deus que ela morresse", completou Salama.

Tio de Sabreen al-Rouh, bebê palestina que morreu poucos dias depois de ter sido salva do ventre de sua mãe após um ataque israelense - Mohammed Salem - 26.abr.2024/Reuters

O ataque daquela noite atingiu duas casas e matou ao menos 19 pessoas, disseram autoridades de saúde palestinas na ocasião. As vítimas incluiriam 13 crianças de uma mesma família e duas mulheres.

Questionado sobre as mortes na semana passada, um porta-voz militar israelense disse à Reuters que vários alvos haviam sido atingidos em Gaza, incluindo complexos militares, postos de lançamento e pessoas armadas.

"Você viu um homem em todos aqueles mortos?", disse na ocasião Saqr Abdel Aal, um homem palestino cuja família estava entre as vítimas, enquanto lamentava sobre o corpo de uma criança em um lençol branco. "Todos são mulheres e crianças. Minha identidade inteira foi apagada com minha esposa e meus filhos."

Mais de 34 mil palestinos foram mortos e outros 77 mil ficaram feridos desde o início da guerra, muitos deles mulheres e crianças, de acordo com o ministério da saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.

Gaza está devastada pelos bombardeios israelenses, e os poucos hospitais da região que ainda funcionam enfrentam falta de eletricidade, equipamentos de esterilização, medicamentos e outros suprimentos devido aos bloqueios de Tel Aviv.

A remoção dos cerca de 37 milhões de toneladas de escombros no território palestino, incluindo munições não detonadas, pode demorar 14 anos, afirmou Pehr Lodhammar, gerente sênior da UNMAS, agência da ONU para retirada de minas, nesta sexta.

"Sabemos que geralmente há uma taxa de falha de pelo menos 10% de munições terrestres que são disparadas e não funcionam", disse ele. "Estamos falando de 14 anos de trabalho com 100 caminhões."

Com Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.