Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Moradores procuram parentes enterrados em vala comum em hospital de Gaza

Casa Branca pede respostas de autoridades israelenses, que negam envolvimento; corpos têm sido encontrados desde sábado (20)

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Khan Yunis (Gaza) | AFP

Moradores da Faixa de Gaza mantêm a procura por parentes enterrados nas valas comuns no hospital Nasser, em Khan Younis. Embora as autoridades israelenses neguem o envolvimento, a Casa Branca declarou publicamente que exigirá respostas de Israel, depois que autoridades do Hamas terem afirmado que mais de 300 corpos foram encontrados no terreno.

"Meu coração de mãe dizia que era Nabil", declarou Reem Zidan à AFP na quarta-feira, depois de recuperar o corpo do filho de 22 anos, exumado por uma escavadeira perto do hospital.

As tropas israelenses atacaram o hospital durante vários dias, alegando que o Hamas utiliza o local para fins militares. Os corpos têm sido encontrados no terreno do complexo médico desde sábado (20) depois que as forças de Israel desocuparam o local, segundo a Defesa Civil de Gaza.

Trabalhadores descobrem corpos encontrados no Hospital Nasser, na cidade de Khan Youni, no sul da Faixa de Gaza - Rizek Abdeljawad - 23.abr.24/Xinhua

"Queremos respostas", disse o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, em entrevista de imprensa na quarta-feira. "Queremos ver isso investigado de forma completa e transparente."

O hospital Nasser é um dos maiores de Gaza e está localizado na cidade de Khan Yunis, no sul, numa das regiões mais bombardeadas no conflito. Além de tratar pacientes, a estrutura servia de abrigo para milhares de palestinos forçados a se deslocar na guerra.

Na terça-feira, a Defesa Civil de Gaza anunciou que exumou quase 340 corpos no complexo do hospital e afirmou que as vítimas foram assassinadas e enterradas pelos israelenses.

O Exército de Israel nega ter enterrado os palestinos. Várias pessoas disseram à AFP que alguns corpos foram enterrados por parentes ou amigos.

"Eles me disseram para ficar afastada, mas eu disse: 'Meu filho está na escavadeira'", acrescentou Zidan, 42. "Eu perdi contato há três meses e, hoje, o reencontrei", declarou a mulher, que também afirmou que o filho morreu em um ataque aéreo israelense, sem especificar a data.

Ao contrário de Zidan, muitos ainda não encontraram os corpos de seus familiares. Sonia Abou Rajilah, uma moradora de 52 anos de Khan Yunis, procura o filho Hazem, 29, que foi enterrado por seus amigos no hospital Nasser.

"Aguardo os cadáveres que são exumados, com a esperança de reconhecer o corpo dele", disse à AFP a moradora de Gaza, que tenta localizar a camisa bege e as calças de cor cinza que o filho vestia na última vez que o viu.

Um escavadeira limpa os escombros de edifícios destruídos em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza - AFPTV -24.abr.24/AFP

Nawal al Zaqzouq, 60, comparece ao hospital todos os dias para tentar encontrar o corpo do filho, Alaa al Attal. Seu irmão o enterrou no local depois que ele não resistiu a uma hemorragia provocada pelo disparo de um franco-atirador israelense, afirmou a mãe.

"Nós afirmamos que, quando as coisas se acalmassem ao redor do hospital, iríamos buscá-lo para fazer o enterro no cemitério", afirmou. "Mas ainda não encontramos o corpo dele".

Os apelos por uma investigação internacional sobre as valas comuns são cada vez mais intensos. "Sem uma apuração real para determinar como estas pessoas morreram ou que violações podem ter sido cometidas, nunca saberemos a verdade sobre os horrores por trás das valas comuns", afirmou Erika Guevara, diretora da Anistia Internacional.

O governo de Israel chamou as acusações de "falsas e sem fundamento" de que o Exército teria enterrado corpos de palestinos no hospital. Mas não respondeu às alegações do Hamas, de que as tropas israelenses mataram as pessoas que foram exumadas.

Os militares israelenses reconheceram que desenterraram corpos no complexo hospitalar para tentar encontrar os cadáveres de reféns tomados pelo Hamas em seu ataque sem precedentes de 7 de outubro.

"Depois de examinados, as tropas devolveram os corpos ao local", afirmou o Exército de Israel em um comunicado.

Instalações, veículos e pessoal médico são protegidos por lei nas situações de conflito armado. Essa proteção está contida na primeira Convenção de Genebra —pioneira norma jurídica de valor universal adotada para regular as guerras no mundo.

O comandante Nadav Shoshani, porta-voz do Exército israelense, denunciou "a desinformação que circula sobre a vala comum descoberta no hospital Nasser". "A vala em questão foi cavada pelos habitantes de Gaza há alguns meses", disse.

No ataque de 7 de outubro, os milicianos do Hamas assassinaram 1.170 pessoas e sequestraram mais de 250, das quais 129 continuam em Gaza. Desde o começo da guerra, 34.300 pessoas, a maioria civis, morreram na região, segundo o Ministério da Saúde local.

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