Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Otan diz que munição para a Ucrânia está acabando

Biden conversa com aliados ocidentais para assegurar apoio americano a Kiev contra a Rússia

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São Paulo

A Otan alertou nesta terça-feira (3) que os estoques de munição usados pela aliança ocidental para manter o esforço de guerra da Ucrânia contra a Rússia estão acabando. "O fundo do barril já está visível", afirmou o almirante holandês Rob Bauer, mais alta autoridade militar do grupo.

Ele disse, em discurso no Fórum de Segurança de Varsóvia, que os governos de países integrantes da Otan precisam "elevar a produção muito mais rapidamente", e que o ritmo atual reflete os anos de relativa paz do pós-Guerra Fria.

Soldados ucranianos disparam um obuseiro americano M777 contra russos em Donetsk, em março
Soldados ucranianos disparam um obuseiro americano M777 contra russos em Donetsk, em março - Aris Messinis - 17.mar.2023/AFP

Hoje, analistas estimam que quase a totalidade dos disparos de artilharia feitos por Kiev contra os invasores russos são de origem ocidental, dado que os estoques de material soviético da Ucrânia foram quase todos empregados desde o começo da invasão, em fevereiro de 2022.

Os Estados Unidos dizem ter enviado dois milhões de obuses de 155 mm, o padrão usado pela Otan, para o governo de Volodimir Zelenski. O Reino Unido, outro integrante central da Otan, afirmou ter doado 300 mil até aqui.

Por motivos de segurança nacional, ninguém divulga exatamente seu arsenal disponível, mas a fala de Bauer vai ao encontro de pedidos de mais produção bélica, principalmente nos países europeus com tal capacidade na aliança —que reúne 29 nações do continente, além de Canadá e EUA.

A meta de gasto militar da aliança é de 2%, mas em 2022 apenas seis de seus membros ultrapassavam esse nível. O dado deverá mudar neste ano, com os crescentes anúncios de investimentos militares devido à percepção de risco provocada pela guerra —que levou a Finlândia, já aceita na Otan, e a Suécia, ainda na fila, a abandonarem posições históricas de neutralidade.

"Se não vamos gastar 2% com defesa agora, com uma guerra na Europa, quando iremos?", questionou, no fórum, o ministro da Defesa britânico, James Heappey. Os estoques militares ocidentais "estão parecendo um pouco magros", afirmou.

A Ucrânia diz ter recebido o equivalente a R$ 500 bilhões em ajuda militar direta até o fim de julho. Segundo contas do Instituto para Economia Internacional de Kiel (Alemanha), os EUA lideram essa ajuda com R$ 370 bilhões.

Além de munição, há a questão dos altamente requisitados mísseis para ataques de precisão, como os já doados Storm Shadow (Reino Unido) e Scalp-EG (França), usados nos ataques bem-sucedidos de Kiev contra a Frota do Mar Negro da Rússia, na Crimeia.

Essas são armas caríssimas, quase R$ 13 milhões a unidade, e de uso, portanto, bastante parcimonioso. A Alemanha reluta em fornecer seu modelo de longo alcance, o Taurus, que Kiev tem pedido com insistência. Aí o motivo é também político: Berlim teme que eles sejam usados contra alvos na Rússia, causando uma escalada militar do confronto.

Do lado russo, Moscou parece ter superado a falta de chips para seus mísseis de precisão, como os Kalibr, com acesso aos componentes por meio de países que não aderiram às sanções ocidentais devido à guerra.

Quanto à produção de munição, analistas dizem que a capacidade russa foi dobrada, para 2 milhões de obuses de 152 mm por ano. Só no ano passado, observadores sugerem que Moscou disparou cerca de 10 milhões deles contra posições na Ucrânia, avançando sobre os vastos depósitos dos tempos soviéticos. Kiev usou talvez quatro vezes menos artilharia.

O fornecimento desse tipo de armamento pela Coreia do Norte foi especulado quando Vladimir Putin recebeu o ditador Kim Jong-un em uma base espacial no Extremo Oriente russo, em troca de tecnologias mais avançadas.

Para a Ucrânia, a admissão ocidental é mais uma má notícia em meio à contraofensiva que promove desde junho. Ela está com sua fase atual no fim, dada a chegada das chuvas de outono no Hemisfério Norte e, depois, o inverno, e não produziu mudanças significativas no balanço da guerra.

A fadiga ocidental com o dispêndio no conflito também é visível na vitória de um partido pró-Rússia nas eleições eslovacas deste fim de semana, que se conseguir formar um governo deverá cessar o apoio a Kiev, e no endurecimento da posição polonesa em relação a Zelenski, também uma questão política: o país vais às urnas no próximo dia 15 e o premiê Mateusz Morawiecki quer continuar na cadeira.

Ambos os países são da Otan. Além disso, o governo Joe Biden teve de fazer um acordo emergencial com o Congresso para aprovar uma lei de gastos sem incluir, pelo menos por 45 dias, novas verbas para a Ucrânia. Com isso, evitou a paralisação dos serviços do governo nesse período.

Nesta terça, o presidente americano fez uma teleconferência com os líderes de França, Reino Unido, Alemanha, Romênia, Polônia, Japão, Itália, Canadá, Otan, Comissão Europeia e Conselho Europeu para reforçar a necessidade de continuação dos esforços para apoiar Zelenski.

Foi uma sinalização de suporte à Ucrânia, assim como a dada pela União Europeia na véspera, quando seus chanceleres se reuniram com o presidente ucraniano e figuras de seu governo em Kiev. O temor, no caso americano, é que a chegada da campanha eleitoral para a Casa Branca dificulte ainda mais a aprovação de auxílios adicionais.

A oposição republicana já se queixa, principalmente na Câmara que domina, do apoio sem uma vitória militar decisiva. Com a corrida eleitoral, o provável adversário de Biden, o ex-presidente Donald Trump, deverá colocar a questão no centro do debate —ele já sinalizou ser contra seguir com a ajuda a Kiev.

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