Nova York pode testar isca 'melhor do que pizza' com contraceptivo para combater ratos

Se aprovado, projeto de lei vai usar pastilhas que esterilizam machos e fêmeas dos roedores em dois bairros da cidade

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Emma G. Fitzsimmons
The New York Times

Há quase 60 anos, os líderes da cidade de Nova York entendem que não podem resolver o problema dos ratos matando-os. Esses roedores são procriadores prolíficos —um só casal tem o potencial de gerar 15 mil descendentes em um ano.

Por isso, as autoridades tentaram repetidamente soluções com contraceptivos, mas os animais prevaleceram. Agora, citando avanços no controle de natalidade de roedores e armazenamento de lixo, a Câmara Municipal quer tentar novamente.

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Rato em uma plataforma do metrô de Nova York - Lucia Buricelli - 6.abr.2024/The New York Times

Um novo projeto de lei apresentado nesta quinta-feira (11) exigirá, se aprovado, que o departamento de saúde da cidade distribua, como parte de um programa piloto, iscas salgadas que esterilizam tanto os machos quanto as fêmeas em dois bairros. Elas seriam usadas nas chamadas zonas de mitigação de ratos, cobrindo pelo menos dez quarteirões da cidade.

O autor do projeto de lei, Shaun Abreu, um vereador que representa Manhattan, aposta que essa tentativa será mais eficaz do que as anteriores, especialmente quando combinada com o esforço mais amplo da cidade para combater os roedores, que inclui colocar lixo em contêineres e incentivar a compostagem.

"Acreditamos que precisamos adotar uma abordagem de choque para o problema dos ratos, lançando mão de tudo o que temos contra eles", disse o político.

A proposta pode ter outro benefício —contraceptivos não devem prejudicar a vida selvagem do município, como aconteceu com a famosa coruja Flaco. A morte dela, um ano após sua fuga do Zoológico do Central Park, foi parcialmente atribuída ao veneno para ratos.

"As aves de rapina não deveriam ter que comer ratos envenenados", disse Abreu.

A grande questão é se a cidade finalmente conseguirá acertar o controle de natalidade dos ratos.

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Flaco, a que escapou do Zoológico do Central Park, em um galho do parque - Jeenah Moon - 9.fev.2023/The New York Times

Em 1967, o governador Nelson Rockefeller anunciou um plano para dar contraceptivos aos ratos dissolvendo uma forma de estrogênio usada em pílulas anticoncepcionais em uma solução de óleo vegetal na qual eram mergulhados carne e grãos. Já a Autoridade de Transporte Metropolitano tentou enfrentar o problema há dez anos por meio da distribuição de contraceptivos para ratos no metrô. No ano passado, a gestão do Bryant Park tentou a mesma coisa, sem sucesso.

Ao longo dos anos, outras táticas foram usadas —veneno, armadilhas, gelo seco, afogamentos e até uma Academia de Ratos para envolver o público nos esforços de erradicação— em um enredo que às vezes parece a perseguição do Coiote atrás do Papa-Léguas. De alguma forma, os ratos sempre vencem.

Embora estimativas precisas sejam difíceis de determinar, uma empresa de controle de pragas disse que havia até 3 milhões de ratos na cidade.

Joseph J. Lhota, que ficou conhecido como "czar dos ratos" sob a gestão do prefeito Rudy Giuliani e já afirmou que eliminar os ratos é uma tarefa interminável, elogiou o novo projeto de lei. Segundo ele, contraceptivos devem fazer parte da solução.

"Nós vamos erradicar os ratos algum dia? Eu não acho que não", disse. "Mas você deve fazer tudo o que puder para reduzir o tamanho da população."

O prefeito Eric Adams tornou a luta uma iniciativa emblemática. Ele instalou seu próprio czar dos ratos, Kathleen Corradi, e iniciou um plano ambicioso para mover o lixo em sacos fétidos das ruas para contêineres no estilo europeu.

Liz Garcia, porta-voz de Adams, disse em um comunicado na quarta-feira (10) que o gabinete revisaria a legislação. A administração adotou uma abordagem que envolve toda a gestão pública na questão. "Continuaremos trabalhando com todos os nossos parceiros no governo em estratégias de redução de ratos", afirmou.

Abreu tem trabalhado com Loretta Mayer, uma cientista que criou o ContraPest, um contraceptivo para ratos que, segundo funcionários do transporte, tem mostrado resultados promissores quando usado no metrô. A isca contém compostos ativos que agem na função ovariana em ratos fêmeas e levam à infertilidade em machos, ao interromper a produção de células espermáticas.

Mayer, que agora dirige uma organização sem fins lucrativos dedicada ao controle da população animal, disse em uma entrevista que as iscas eram cheias de gordura e sal e eram tão deliciosas que os ratos preferiam comer elas a vasculhar o lixo. "É melhor do que pizza", disse.

A pesquisadora afirma que o maior desafio é aumentar a escala para ter pastilhas suficientes para distribuir os contraceptivos de forma mais ampla. O custo é baixo, diz ela —cerca de US$ 5 (R$ 25) por quilograma.

Outras cidades como Boston, Columbus e Hartford tentaram contraceptivos para ratos. Para Abreu, tentativas anteriores na cidade de Nova York foram malsucedidas porque os funcionários não foram persistentes o suficiente, usaram iscas líquidas e não colocaram o lixo em contêineres, o que dá aos ratos menos alternativas.

Abreu se tornou um evangelista para a "revolução do lixo" do prefeito, e seu distrito é onde o piloto de conteinerização está ocorrendo.

Alguns grupos de bem-estar animal apoiam seu projeto de lei, argumentando que contraceptivos são uma forma mais humana de lidar com os ratos e ajudarão outros animais mais altos na cadeia alimentar.

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