Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Palestinos detidos por Israel relatam espancamentos e humilhações, diz UNRWA

Agência da ONU reúne depoimentos sobre condições degradantes; Tel Aviv afirma que revisa queixas concretas

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Aaron Boxerman
Jerusalém | The New York Times

Palestinos da Faixa de Gaza libertados após detenção de Israel descrevem cenas de abuso físico em depoimentos coletados por trabalhadores das Nações Unidas, de acordo com um relatório divulgado na terça-feira (16) pela UNRWA, a agência da ONU para refugiados palestinos.

Detidos dizem que foram obrigados a ficar de joelhos por horas com as mãos amarradas e com os olhos vendados, privados de água e comida, sem local adequado para urinar, entre outras humilhações, afirma o relatório. Outros descrevem terem sido espancados com barras de metal, coronhas de armas e chutes ou forçados a entrar em gaiolas e atacados por cães, de acordo com o texto.

Pessoas de pé sobre destroços de concreto e metal, com carro destruído em primeiro plano
Pessoas caminham sobre destroços no campo de refugiados de Nuseirat, região central de Gaza - 18.abr.24/Xinhua

O New York Times não entrevistou as testemunhas que falaram aos trabalhadores da UNRWA e não pôde verificar de forma independente seus relatos. Nenhum dos depoentes é citado nominalmente. Ainda assim, alguns dos depoimentos no relatório coincidem com relatos fornecidos ao New York Times, em janeiro, por mais de uma dúzia de libertos e seus parentes, que mencionam espancamentos e interrogatórios severos.

As forças israelenses prenderam milhares de palestinos de Gaza durante sua campanha de seis meses contra o Hamas, o grupo terrorista palestino. O Exército de Tel Aviv diz que prende suspeitos de envolvimento com a facção e com outros grupos, mas mulheres, crianças e idosos também foram detidos, de acordo com o relatório da UNRWA.

Os militares e o escritório do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, não responderam a um pedido de comentário sobre o relatório. Mas, ao serem questionadas sobre acusações semelhantes de abuso no passado, autoridades israelenses disseram que os detidos são mantidos de acordo com a lei e que seus direitos básicos são respeitados.

Funcionários da UNRWA reuniram depoimentos de mais de cem palestinos libertados que chegaram à passagem de Kerem Shalom, na fronteira de Gaza com o sul de Israel, ao longo de vários meses. De acordo com o texto, médicos palestinos ocasionalmente levavam prisioneiros libertados que estavam feridos ou doentes diretamente para hospitais da região, acrescentando que às vezes eles apresentavam "sinais de trauma e maus-tratos".

Muitos dos detidos são encaminhados para instalações de detenção militar dentro de Israel, de onde muitos deles são levados para prisões civis do país. Pelo menos 1.500 haviam sido libertados pelas autoridades israelenses em Kerem Shalom até 4 de abril, diz o relatório.

O tratamento dos detidos na prisão incluiu "serem submetidos a espancamentos enquanto eram obrigados a deitar em um colchão fino em cima de escombros por horas sem comida, água ou acesso a um banheiro, com as pernas e mãos amarradas com abraçadeiras de plástico", afirma ainda o relatório.

No texto, uma prisioneira libertada descreve como um oficial israelense ameaçou matar toda a sua família em um ataque aéreo se ela não fornecesse mais informações aos israelenses. Outro disse que foi forçado a sentar em uma sonda elétrica que queimou seu ânus.

Alguns palestinos libertados disseram aos trabalhadores humanitários que foram espancados em seus genitais, revistados de forma agressiva e apalpados sexualmente, afirma o relatório da UNRWA. Mulheres relatam terem sido forçadas a se despir na frente de oficiais homens, sugerindo que alguns dos incidentes "podem configurar violência e assédio sexual".

Quando apresentado às descobertas em um rascunho do relatório que foi tornado público no mês passado, o Exército israelense disse que todo mau tratamento de detentos era "absolutamente proibido", e que todas as "queixas concretas sobre comportamento inadequado são encaminhadas às autoridades relevantes para revisão". Os militares disseram ainda que cuidados médicos estavam prontamente disponíveis para todos os detentos e que o maus tratos a detentos "viola os valores das IDF" (Forças de Defesa de Israel).

No mês passado, o Exército afirmou que estava ciente das mortes de 27 palestinos sob sua custódia, alguns dos quais já estavam feridos. E pelo menos 10 palestinos, a maioria da Cisjordânia, morreram no sistema prisional civil de Israel desde 7 de outubro, de acordo com a comissão oficial de prisioneiros palestinos e grupos de direitos israelenses, incluindo Médicos pelos Direitos Humanos de Israel, cujos profissionais participaram de algumas das autópsias.

A UNRWA, importante provedor de assistência humanitária em Gaza, está sob escrutínio nos últimos meses, depois que Israel a acusou de abrigar integrantes do Hamas em suas fileiras. Na sequência da acusação, os principais doadores estrangeiros, incluindo os Estados Unidos, suspenderam o financiamento para a agência, embora alguns o tenham retomado desde então.

Israel afirma que pelo menos 30 dos 13 mil funcionários da agência em Gaza participaram do ataque liderado pelo Hamas em Israel em 7 de outubro ou em seus desdobramentos.

Em resposta às acusações, a UNRWA demitiu funcionários acusados de serem membros do Hamas. Duas investigações foram abertas sobre as acusações —uma pelo órgão de investigações internas da ONU e outra por revisores independentes nomeados pelo secretário-geral das Nações Unidas.

No relatório divulgado na terça-feira, a UNRWA diz que alguns de seus próprios funcionários foram espancados, ameaçados, despidos, humilhados e abusados enquanto estavam detidos pelas autoridades israelenses. Disse ainda que durante os interrogatórios foram pressionados a dizer que a UNRWA tinha afiliações com o Hamas e que seus funcionários participaram do ataque de 7 de outubro.

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