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Irmã de Milei centraliza estratégias e idealiza estética roqueira do ultraliberal

Karina Milei é chamada de 'o chefe' por candidato à Presidência que venceu primárias na Argentina

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São Paulo

Quando crianças, seus papéis eram invertidos. Karina é a caçula da família e recebia a proteção do irmão mais velho, Javier Milei. Agora, ela é a arquiteta da campanha do candidato que venceu as primárias na Argentina, sendo responsável por cada movimento do político considerado um fenômeno no país.

Karina Milei, 50, é centralizadora a ponto de ser chamada de "o chefe" pelo irmão. Não à toa, ela também é vista como peça-chave para o êxito do político no último domingo (13), quando o autotintitulado anarcocapitalista recebeu 30% dos votos e ficou à frente dos representantes de partidos tradicionais.

O candidato à Presidência da Argentina Javier Milei comemora resultados das primárias ao lado da irmã, Karina, em Buenos Aires
O candidato à Presidência da Argentina Javier Milei comemora resultados das primárias ao lado da irmã, Karina, em Buenos Aires - Alejandro Pagni - 13.ago.23/AFP

Javier e Karina sempre foram próximos, e o político faz questão de destacar a importância da irmã. "Se eu fosse presidente, acho que ela faria o papel de primeira-dama", disse ele ao jornal argentino La Nación.

Segundo o jornal Clarín, também argentino, Karina é o braço direito na campanha e o "cérebro por trás do personagem" de Milei. Ela organiza a agenda do candidato, decide as estratégias dos discursos e até coordena os efeitos de luz e de som quando o político sobe nos palanques.

A "irmã mais famosa do momento", como vem sendo descrita pela imprensa local, idealizou a estética roqueira de Milei, algo que remete à adolescência, quando ele teve uma banda de rock que tocava canções dos Rolling Stones. Já nos últimos meses, o político de cabelo desgrenhado adotou como tema uma música do grupo argentino de hard rock La Renga, parafraseando-a com rimas críticas à "casta política".

Karina esteve à frente inclusive de estratégias controversas. Foi dela a ideia de sortear o salário de deputado de Milei pela internet. A ação foi criticada tanto por parlamentares governistas quanto pelos da oposição, mas deu projeção ao político até então pouco conhecido em âmbito nacional.

Se é inegável que o irmão tem presença de palco, nesse aspecto Karina se coloca com discrição. Ela prefere ficar longe das câmeras e não tem perfis públicos nas redes sociais. Segundo o irmão, nem sempre foi assim. Na infância, disse Milei, ele era o reservado, em contraste com a irmã extrovertida.

Karina estudou relações públicas, com especialização em eventos. Seus hobbies incluem cozinhar e se arriscar no mundo das artes —ela fez cursos de desenho e pintura. Antes, esteve envolvida nos negócios da família, mas hoje foca apenas a carreira política de Milei. Os irmãos trabalham juntos há uma década.

De família de classe média, os irmãos Milei cresceram em Villa Devoto, bairro de Buenos Aires. A mãe, Alicia, foi dona de casa, e o pai, Norberto, motorista de ônibus e, depois, pequeno empresário do setor de transportes. A infância foi conturbada, e o hoje candidato diz que sofria agressões com frequência.

Uma delas ilustra bem seu relacionamento com a irmã. Ele diz ter levado uma surra ao discordar do pai sobre a Guerra das Malvinas em 1982, quando tinha 11 anos. Karina ficou em estado de choque e precisou ser hospitalizada. Depois, a mãe disse a Milei que a menina "quase havia morrido" e que a culpa era dele.

Ao longo da carreira, ele nunca escondeu a relação conturbada com os pais e chegou a afirmar que eles estavam mortos para ele. A reconciliação aconteceu após esforços de Karina, e o político cuidou do pai durante a pandemia. Assim como a irmã, o líder da coalizão A Liberdade Avança não tem filhos.

"Você sempre tem que ter alguém a quem se reportar. No meu caso, reporto à minha irmã", disse Milei ao La Nación, reiterando a confiança em Karina. Ela, por sua vez, sabe que o conhece melhor que ninguém.

"Meu irmão se sente confortável interpretando um rockstar e vai ser presidente", disse Karina ao Clarín, numa rara entrevista. Ela não faz parte de nenhum partido político e diz que não pretende se candidatar.

As eleições gerais na Argentina estão marcadas para 22 de outubro. Além de Milei, que obteve 30% dos votos, a coalizão de oposição Juntos por el Cambio foi escolhida por 28,3%, com vantagem para a candidata mais linha-dura, Patricia Bullrich, ex-ministra da segurança do governo de Mauricio Macri.

O peronismo teve seu pior desempenho desde a implementação das primárias, em 2011 —os governistas da União pela Pátria ficaram em terceiro, com 27,3%, com o chefe da Economia, Sergio Massa, à frente.

Milei se apresenta como um candidato da terceira via, "diferente de tudo o que está aí". Suas principais bandeiras são a oposição à política tradicional, além de um neoliberalismo radical, incluindo a dolarização da economia e a eliminação do Banco Central. As propostas para a área econômica colaboraram para alavancar sua candidatura, já que ele foi um dos poucos presidenciáveis a abordar diretamente na campanha a inflação anual de 116% e o índice de pobreza próximo aos 40%.

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