Passados dois dias da posse de Lai Ching-te em Taiwan, imprensa e mídia social na China responderam mais agressivamente a seu discurso, com destaque para o chanceler Wang Yi, que o descreveu como "a maior ameaça à paz no estreito" que separa a ilha do continente. Citando Lai pelo nome, Wang disse que ele "traiu a nação e seus antepassados".
O Renmin Ribao ou Diário do Povo, principal jornal do Partido Comunista da China, dedicou uma página para as críticas a Lai. E a rede social Weibo, que havia derrubado hashtags sobre a ilha desde segunda-feira, atravessou manhã e tarde desta quarta tendo como tópico mais popular "Taiwan nunca foi um país e nunca será um país".
Entre as mensagens de mais repercussão no Weibo, um usuário escreveu que "agora só temos que aguardar uma oportunidade". E um dos principais comentaristas chineses de assuntos militares, Song Zhongpin, avaliou que o discurso eleva o risco de guerra.
Na mesma linha, o Escritório para Assuntos de Taiwan, em Pequim, soltou nesta quarta um segundo comunicado sobre Lai, descrevendo o discurso como "recheado de antagonismo e provocação, mentiras e enganação". E rejeitou a sugestão de retomar o intercâmbio de estudantes e turismo.
Também com dois dias de atraso, jornais ocidentais como Financial Times destacaram que Pequim "tem razão sobre o novo líder", que se afastou da moderação da antecessora, Tsai Ing-wen, ao enfatizar a soberania da ilha no discurso, questionado publicamente por aliados da própria Tsai.
A oposição taiwanesa, mais próxima de Pequim, respondeu com palavras e ação no Legislativo. Eric Chu, presidente do Kuomintang (KMT), também afirmou que "a defesa de uma estrutura de dois países [em vez de uma só China] contradiz a abordagem anterior de Tsai, com base na Constituição da República da China", nome oficial da ilha.
Chu disse temer "aumento da tensão no estreito". Na mesma linha, um porta-voz de Ma Ying-jeou, último líder taiwanês ligado ao KMT, que governou até 2016, declarou que o discurso "leva a uma situação de perigo sem precedentes entre os dois lados do estreito".
O KMT, que preside o Legislativo e tem a maioria, ao lado do Partido do Povo de Taiwan (PPT), fez na terça-feira a segunda leitura de uma reforma parlamentar que amplia os poderes de fiscalização sobre o Executivo. Lai, com um pronunciamento anual, e ministros passariam a prestar contas regularmente ao Legislativo, inclusive em comissões de inquérito.
Foi a reforma que levou às cenas de violência de sexta passada, quando parlamentares do Partido Democrático Progressista (PDP), de Lai, buscaram interromper a primeira leitura, sem sucesso. Na terça, uma manifestação de milhares de partidários diante do Legislativo não impediu o avanço dos projetos.
A terceira leitura está marcada para a próxima sexta, quando se projeta que ela será aprovada. Mas a expectativa agora é de invasão do Parlamento.
Cenas de violência são relativamente comuns no plenário taiwanês, há décadas, mas em 2016 os protestos de rua, contra um acordo comercial entre a ilha e o continente, levaram à invasão por manifestantes. Eles ocuparam o local por dias e conseguiram barrar os planos do então presidente Ma.
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