Mujica diz não ter medo da morte e descarta tratar tumor fora do Uruguai

Ex-presidente diz que confia em médicos locais, menciona radioterapia e agradece mensagens de apoio

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Montevidéu (Uruguai) | AFP

O ex-presidente do Uruguai e ícone da esquerda José Pepe Mujica descartou, nesta quarta-feira (1º), viajar para se tratar do tumor no esôfago que foi diagnosticado recentemente, e agradeceu as demonstrações de apoio que recebeu dentro e fora do país.

O ex-presidente, de 88 anos e que sofre de vasculite, uma doença autoimune, revelou na segunda-feira que tem um tumor no esôfago com prognóstico "muito complexo".

Sua ausência foi notada nos atos referentes ao Dia do Trabalhador. Mas ele compareceu ao churrasco, organizado tradicionalmente por seus apoiadores nesta data nas proximidades de sua casa, nos arredores de Montevidéu.

O ex-presidente do Uruguai José Pepe Mujica após evento em Montevidéu - 29.abr.24/AFP

"Obrigado a todas as pessoas que me ligaram do Uruguai e do exterior, e o que me desejaram do Brasil, da Argentina, dos Estados Unidos. A todos, meus agradecimentos", disse a jornalistas.

Mas insistiu que permanecerá no país. "Eu não vou nem à esquina. Confio nos médicos uruguaios. Agradeço muito, mas vamos ver o que podemos remendar por aqui", disse Mujica.

Ele afirmou que o tumor não se espalhou e que, pelo tipo de variante celular, é "quase certo" que o tratamento seja "por radiação".

Mujica, um ex-guerrilheiro que governou o Uruguai de 2010 a 2015, destacou as mensagens de solidariedade recebidas de pessoas de ideologias muito diferentes da sua. "Que lindo é ser uruguaio porque teve gente que me ligou com quem politicamente nos confrontamos e tivemos problemas."

Entre outros, ele mencionou o atual presidente uruguaio, o centro-direitista Luis Lacalle Pou, os ex-presidentes Julio María Sanguinetti e Luis Alberto Lacalle Herrera, e o ex-ministro Pedro Bordaberry.

Questionado se tem medo da morte, Mujica afirmou que é preciso aceitá-la. "Tudo o que nasce, nasce para morrer, é preciso aceitar isso. E eu tive sorte! Levei tiros e chutes, tenho uma doença imunológica, estou vivendo de graça, do que vou me queixar?! Quando for a minha vez, que seja."

No churrasco, ele estava com a esposa, Lucía Topolansky, ex-guerrilheira e ex-vice-presidente do Uruguai (2017-2020), correligionários e amigos, entre eles o músico uruguaio Rubén Rada.

"Vou continuar com a minha vida normalmente o quanto puder e quando não puder mais, veremos o que vamos fazer", disse Mujica.

Em tom de humor, ele contou que sua alimentação prescrita pelos profissionais que cuidam de sua saúde está restrita a "uma sopinha".

"Não posso comer muito porque a barriga me dói", contou, com um gesto de resignação. O uruguaio afirmou, porém, que se sentir muita falta de churrasco, pretende batê-lo no liquidificador "com salada e tudo" para tomá-lo "como bebida".

Mujica foi preso político da brutal ditadura militar uruguaia durante 13 anos. Viveu em condições subumanas, como relatado por ele e por colegas de cárcere diversas vezes, e foi também torturado.

Desde que deixou a Presidência, Mujica assumiu como senador. Mas renunciou ao cargo em 2020, em decisão antecipada pela pandemia de coronavírus, mencionando a doença autoimune e crônica que possui e sobre a qual nunca trouxe detalhes a público.

Neste meio-tempo e, notadamente desde o fim da pandemia, Mujica se fez presente em diferentes campanhas de figuras de esquerda e centro-esquerda na vizinhança, sendo visto como uma espécie de conselheiro do setor. Ele participou ativamente da campanha de Lula (PT) à Presidência em 2022, quando o líder petista disputou contra Jair Bolsonaro.

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