Descrição de chapéu Coreia do Norte

Fabricante da limusine que Putin deu a Kim usa peças da Coreia do Sul

Registros da empresa vistos pela Reuters mostram que Aurus importou milhões de dólares em acessórios para seus veículos

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Tbilisi (Geórgia) | Reuters

A primeira visita em 24 anos de Vladimir Putin, à Coreia do Norte, há pouco mais de uma semana, foi selada com um presente do presidente da Rússia a Kim Jong-un —uma limusine russa com a qual a dupla passeou pelas ruas de Pyongyang.

O sedã de luxo Aurus Senat, que lembra o estilo retrô do modelo Zil, da era soviética, foi lançado em 2018 para simbolizar a independência da Rússia de bens importados e usado na posse de Putin no mesmo ano, no lugar da Mercedes-Benz que o líder usava em eventos oficiais. Trata-se do segundo veículo do tipo que o ditador norte-coreano ganha do seu aliado —o primeiro foi dado em fevereiro deste ano.

Foto divulgada por agência de notícias oficial da Coreia do Norte mostra Kim Jong-un e Vladimir Putin dirigindo limusine russa - KCNA/via AFP

Os preços dos carros Aurus —há quatro modelos, incluindo um SUV e uma versão blindada— começam em 46 milhões de rublos (quase R$ 3 milhões). Os clientes incluem o líder do Turcomenistão, Serdar Berdymukhamedov.

A estratégia, que vem sendo chamada de diplomacia da limusine, reforça a aliança entre os dois países no momento em que as forças geopolíticas se redesenham e a Coreia do Norte se aproxima ainda mais de países como Rússia e China, distanciando-se de aliados dos Estados Unidos.

No entanto, registros alfandegários mostram que a empresa que fabrica o Aurus Senat usa milhões de dólares em peças importadas —muitas vindas da Coreia do Sul, que Kim descreveu como o "principal inimigo" de Pyongyang no ano passado, mudando uma política de décadas.

As importações apontam para a dependência da Rússia da tecnologia ocidental enquanto EUA e Europa sancionam Moscou pela invasão da Ucrânia.

Os documentos vistos pela Reuters mostram que a Rússia importou equipamentos e componentes no valor de pelo menos US$ 34 milhões entre 2018 e 2023 para a montagem de carros e motocicletas Aurus. A agência de notícias não teve acesso a dados mais recentes.

Desse montante, quase US$ 15,5 milhões foram importados da Coreia do Sul, incluindo peças de carroceria, sensores, controladores programáveis, interruptores, equipamentos de soldagem e outros componentes. Peças também foram importadas de China, Índia, Turquia, Itália e outros países da União Europeia.

Após fevereiro de 2022, quando começou a Guerra da Ucrânia, o valor dos suprimentos estrangeiros que a empresa usou chegaram a US$ 16 milhões, incluindo US$ 5 milhões produzidos na Coreia do Sul.

A Reuters não conseguiu determinar se as peças estrangeiras importadas acabaram no carro presenteado a Kim nem se as importações violaram sanções —a Aurus foi sancionada pelos EUA em fevereiro de 2024. A empresa e seu presidente-executivo, Andrei Pankov, não responderam perguntas da agência de notícias sobre o uso de peças estrangeiras em seus veículos.

O êxodo de empresas após a invasão da Ucrânia deixou um vácuo na Rússia que produtores chineses rapidamente preencheram, conquistando mais da metade da participação de mercado e expondo a limitada capacidade de produção doméstica da Rússia.

Antes da guerra, empresas da Coreia do Sul estavam entre os maiores fornecedores da Aurus. A produtora de equipamentos industriais Kyungki Industrial, o fabricante de peças de carroceria BYT e o fornecedor de baterias Enertech são algumas das companhias da lista sul-coreana. A produtora italiana de peças plásticas Industrie Ilpea Spa e a empresa de Hong Kong Rain Electronics também forneceram produtos.

À Reuters, um funcionário da Kyungki Industrial confirmou que a empresa forneceu peças para a Aurus e continua a fazê-lo sem se preocupar com possíveis sanções. Já a Rain Electronics não pôde ser contatada para comentar. Quando um correspondente da agência de notícias visitou o endereço indicado na internet como o escritório da empresa em Hong Kong, não havia vestígios da Rain Electronics no andar listado online ou no prédio de escritórios.

BYT, Enertech e Industrie Ilpea Spa não responderam aos pedidos de comentário da Reuters.

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