Ditador do Turcomenistão diz que deixará cargo, e filho concorrerá em eleição de fachada

Líder do país desde 2007, Gurbanguly Berdymukhamedov tenta construir dinastia na Ásia central

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Moscou | Reuters

Serdar Berdymukhamedov, 40, ministro da Economia do Turcomenistão, confirmou nesta segunda-feira (14) que vai concorrer à Presidência do país no mês que vem. Considerando os resultados possíveis e o sobrenome do candidato, porém, o anúncio deve ser uma mera formalidade.

Serdar é filho de Gurbanguly Berdymukhamedov, 64, ditador que está no poder desde 2007 e anunciou no fim de semana que não deve concorrer a um novo mandato depois de 15 anos à frente da ex-república soviética.

Em um país em que as instituições são fortemente controladas pelo Estado, o pleito é de fechada: o pai venceu as eleições de 2007 com cerca de 89% dos votos, foi reeleito em 2012 com 97% e, novamente com 97%, reconduzido para um terceiro mandato em 2017.

Serdar Berdymukhamedov, filho do ditador do Turcomenistão, durante cerimônia na capital do país em 2021
Serdar Berdymukhamedov, filho do ditador do Turcomenistão, durante cerimônia na capital do país em 2021 - Igor Sasin - 21.ago.21/AFP

Como a urna contará com um Berdymukhamedov novamente, apenas com outro nome, o resultado em 12 de março não deve ser outro que não a vitória de Serdar.

O relatório anual Freedom in the World, que mede direitos políticos e liberdades civis de nações, deu nota 2, de um total de 100 pontos possíveis, para o Turcomenistão —a Coreia do Norte recebeu nota 3.

O país da Ásia Central é definido no documento como "um Estado autoritário repressivo, onde direitos políticos e liberdades civis são quase completamente negados na prática. As eleições são estritamente controladas, a economia é dominada pelo Estado e a corrupção é sistêmica".

Em 2021, o país ganhou uma posição no ranking da ONG Repórteres sem Fronteiras de liberdade de imprensa: subiu de 179º para 178º (de um total de 180 países), em relação ao ano anterior.

O ditador, conhecido por suas excentricidades —como a obsessão por cavalos e o costume de divulgar vídeos musicais em que ele é a principal estrela—, havia sido o dentista de seu antecessor, Saparmurat Niyazov, que o convidou para ser ministro da Saúde antes de morrer.

O filho, Serdar, foi rapidamente promovido pelo pai em cargos políticos. Foi membro do Parlamento e também governador de uma das cinco províncias turcomenas, até chegar à cadeira responsável pela Economia e também pelo setor energético do país, basicamente dedicado à exportação de gás natural —principalmente para a China, mas também para a Rússia.

Em março de 2020, Gurbanguly deu mostras de seu controle sobre o Turcomenistão: enquanto o mundo vivia os primeiros meses da pandemia da Covid-19 e já somava 800 mil contaminados e 39 mil mortos pela doença, o ditador baniu o uso da palavra coronavírus no território turcomeno.

Na ocasião, a polícia poderia prender, por exemplo, qualquer pessoa que usasse a palavra em algum local público, mesmo que fosse apenas durante uma conversa com amigos.

Embora esteja preparando a herança política para o filho, o ditador indicou que não deve abrir mão de outro cargo que acumula, o de presidente de uma das Casas legislativas do país. Seria um movimento semelhante ao feito recentemente em outra ex-república soviética, o Cazaquistão.

Por lá, Kassim-Jomart Tokaiev sucedeu o longevo ditador Nursultan Nazarbaiev, que até uma onda de protestos recentes, vivia como "pai da nação" e tinha grande poder no poderoso Conselho de Segurança do país —ele acabou removido do cargo.

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