Em posse, Putin estreia limusine feita na Rússia

Veículo substituiu a Mercedes-Benz que o presidente usava em eventos oficiais

São Paulo

Para fazer jus ao seu discurso patriótico e de defesa de valores russos, Vladimir Putin resolveu estrear nesta segunda-feira (7) sua nova limusine presidencial —a primeira feita em seu país desde os tempos da União Soviética.

A Kortej (cortejo, em russo) é um carro de aparência parruda, com linhas que lembram um pouco as do americano Chrysler 300, longe das formas harmoniosas da limusine alemã Mercedes-Benz S600 Guard Pullman que Putin utilizou até aqui.

O carro vem sendo desenvolvido desde 2012 pelo Nami, um instituto estatal de tecnologia de transporte. Não há muitos detalhes sobre o modelo, mas a ligação com a Alemanha não foi totalmente rompida: a Porsche ajudou a desenvolver o motor, e a Bosch, os sistemas eletrônicos do veículo. O motor, pelo que se especula na Rússia, tem 4,4 litros e 592 cavalos. Com cerca de cinco toneladas, o carro é blindado e tem todo o protocolo de segurança de limusines presidenciais: célula de sobrevivência em caso de ataques químicos, sistemas de comunicação avançados.

Também sem confirmação oficial, a imprensa russa afirma que o modelo é híbrido, contando com uma unidade motriz elétrica independente. Mas o toque é menos de correção política ambiental do que de praticidade: o motor secundário só seria acionado em caso de falha do principal, segundo os relatos.

A Kortej, que já tem 14 unidades prontas e valor não revelado, é um dos modelos de utilitários de luxo que o Nami pretende lançar. Carros para escolta, SUVs e jipes 4x4 estão nos planos da montadora estatal.

 

A marca ressuscita a antiga tradição das limusines soviéticas. No começo do regime comunista, Vladimir Lênin (1870-1924) usava um Rolls-Royce britânico. Seu sucessor, Josef Stálin (1878-1953), adotou em 1937 uma versão blindada do americano Packard Super 12, mas com o crescimento do poderio soviético na Segunda Guerra Mundial e o consequente afastamento dos então aliados EUA, ficou claro que o Guia Genial dos Povos não poderia rodar em um carro de origem, digamos, imperialista.

Um programa de engenharia reversa, a popular cópia, foi feito pela fábrica ZiL, naquele momento com o nome ZiS, com o S homenageando o ditador Stálin. As primeiras limusines stalinistas entraram em produção nos anos 1940. Após a morte do ditador, com o antigo nome restaurado, a ZiL forneceu uma longa série de carros para os oficiais do Partido Comunista. Com o colapso do país, em 1993 o presidente Boris Ieltsin adotou a primeira de uma família de veículos da Mercedes usados como carro presidencial, culminando no modelo que Putin agora aposentou.

FESTA

A posse do presidente foi uma festa maioritariamente russa, com 5.000 convidados no Grande Palácio do Kremlin. Não havia líderes estrangeiros de destaque no evento, um efeito colateral da crise diplomática estabelecida entre a Rússia e Ocidente a partir do envenenamento de um ex-espião russo e sua filha na Inglaterra, em março. O ex-chanceler alemão Gerhard Schröder, que agora representa uma subsidiária da gigante russa de energia Gazprom, estava presente, além de figuras folclóricas como o ator americano de filmes de ação Steven Seagal —amigo pessoal de Putin que ganhou o passaporte russo em 2016.

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