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Por que direita radical avançou tanto na eleição da União Europeia

Macron dissolve o Parlamento da França após derrota nas urnas para os nacionalistas franceses

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Um grupo de pessoas comemora em um evento, com expressões de alegria e entusiasmo, agitando bandeiras francesas. A atmosfera é de celebração e patriotismo, com um foco particular em um jovem homem no centro, que parece estar liderando o grupo em um momento de exaltação coletiva.
Eleitores do partido francês de direita radical Reagrupamento Nacional comemoraram a vitória na votação para o Parlamento Europeu - Reuters/BBC
Katya Adler
BBC News Brasil

Em cúpulas anteriores de líderes da União Europeia em Bruxelas, o presidente francês, Emmanuel Macron, foi muitas vezes acusado de tentar roubar a cena.

E não há dúvida de que ele conseguiu fazer isso no domingo (9). Embora provavelmente não da maneira que gostaria.

Enquanto os votos para o Parlamento Europeu ainda estavam sendo apurados, Macron dominava as manchetes dos jornais.

Sua derrota nas urnas para os nacionalistas franceses de radical era esperada. Mas sua decisão de dissolver o Parlamento da França na sequência, foi um choque.

Ele havia cogitado esta ideia no ano passado, após perder maioria no Parlamento nas últimas eleições gerais na França, mas poucos esperavam esta medida agora.

É uma grande aposta. De uma posição de fraqueza.

Emmanuel Macron se descreve como um centrista e um europeu apaixonado.

As eleições gerais antecipadas vão ser realizadas em dois turnos — em 30 de junho e 7 de julho —, e podem fazer com que ele tenha de governar ao lado de um primeiro-ministro francês de direita radical eurocética.

Marine Le Pen, regularmente retratada como sua inimiga política, declarou no domingo que seu partido estava pronto para governar.

Já aconteceu na França de o presidente, que é o político mais poderoso do país, e o primeiro-ministro, serem de partidos diferentes.

Mas se o novo primeiro-ministro for da ultradireita, será algo inédito para a França.

Marine Le Pen tem trabalhado arduamente nos últimos anos para tentar aumentar o apelo do seu movimento político e suavizar a imagem radical.

Ela e seus apoiadores esperam que este triunfo significativo na votação para o Parlamento Europeu — seu partido Rassemblement National (Reagrupamento Nacional) obteve mais do que o dobro do número de votos do partido Renaissance (Renascimento), do presidente Macron — se traduza em grandes vitórias nas eleições antecipadas dentro do país.

O sonho dela seria que estas conquistas deixassem ela ou seu popular afilhado político prodígio, Jordan Bardella, de 28 anos, mais perto de se tornar presidente da França — algo que ela tentou (e não conseguiu alcançar) várias vezes. A próxima eleição presidencial na França está marcada para 2027.

A imagem mostra dois cartazes de campanha eleitoral lado a lado, cada um apresentando um candidato diferente. Os cartazes estão afixados em uma parede externa e apresentam sinais de desgaste. No cartaz da esquerda, o slogan diz "Nous tous", enquanto o da direita afirma "Pour tous les Français", ambos sugerindo mensagens de inclusão e apelo ao eleitorado francês.
Cartazes oficiais da campanha dos dois candidatos às eleições presidenciais francesas em 2022 - Reuters/BBC

Na eleição para o Parlamento Europeu, a direita radical e a direita nacionalista avançaram em muitas partes da União Europeia, à medida que os eleitores estão preocupados com a questão da migração, a inflação e o custo das reformas ambientais.

Mas não está claro se vão realmente ser capazes de influenciar a futura política do bloco europeu.

A maioria dos assentos no Parlamento Europeu — onde as leis do bloco são debatidas, modificadas, aprovadas ou rejeitadas — permanecem firmemente nas mãos dos partidos de centro.

Para afetar a política da União Europeia, os partidos de direita radical de todo o bloco vão precisar se unir, para ganhar influência.

E isso é um desafio. Eles têm prioridades nacionais diferentes, e algumas diferenças profundas, como até que ponto apoiar a Ucrânia contra a Rússia.

Uma questão que afeta a vida de todos os cidadãos da União Europeia, e que a direita radical já influenciou, é a reforma ambiental, com um custo estimado de trilhões de euros. Trata-se de uma prioridade para a União Europeia, que há muito tempo tem a ambição de querer ser líder mundial na ação climática.

Mas os partidos verdes perderam 20 assentos na votação para o Parlamento Europeu.

Diante da crise do custo de vida, os contribuintes da União Europeia estão cada vez mais nervosos e até mesmo resistentes às novas regras ambientais, que fazem pressão para adquirirem um novo sistema de aquecimento para suas casas ou um carro menos poluente.

Agricultores de toda a União Europeia organizaram protestos em massa contra as regras ambientais que consideram injustas e desastrosas.

A direita radical em toda a Europa usou claramente este descontentamento para se apresentar como a voz do povo, enfrentando as "elites no comando" em Bruxelas e no governo nacional.

O resultado: sob pressão antes da votação para o Parlamento Europeu, uma série de regulamentações ambientais do bloco foram diluídas ou revogadas, incluindo uma relativa às regras sobre pesticidas. Este enfraquecimento dos objetivos ecológicos pode muito bem ser uma indicação do que está por vir.

Uma reflexão final: ao tentar fazer previsões sólidas sobre o tipo de poder que a direita nacionalista vai exercer, ou não, na União Europeia no futuro, os rótulos muitas vezes não são muito úteis.

Alguns nacionalistas de direita radical estão se tornando mais convencionais com o objetivo de atrair mais eleitores, enquanto um número cada vez maior de políticos de centro-direita tem adotado a linguagem da direita radical em questões polêmicas, como migração e meio ambiente, numa tentativa de manter seus apoiadores.

No geral, o bloco de centro-direita conquistou o maior número de assentos, e obteve o maior número de conquistas no Parlamento Europeu.

Você pode não ver esta manchete com tanta frequência nos jornais. É menos atraente do que um debate sobre os avanços da direita radical.

Katya Adler é editora de Europa da BBC News 

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