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Proposta de aliança com ultradireita na França fratura conservadores; esquerda tenta se unir

Republicanos rechaçam líder do partido por sugestão de acordo com Reunião Nacional, de Le Pen, para eleições legislativas

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Boa Vista

A sugestão de uma aliança com o partido ultradireitista Reunião Nacional (RN) na França abriu uma crise na legenda conservadora Republicanos e embola as negociações no campo da direita.

O atual líder da sigla, Eric Ciotti, afirmou que um acordo com os radicais era necessário para evitar que a esquerda conquiste maioria na Assembleia Nacional. A composição atual da Casa foi dissolvida pelo presidente do país, Emmanuel Macron, no domingo (9), após vitória avassaladora do RN na eleição ao Parlamento Europeu.

Eric Ciotti, líder do partido conservador Republicanos, deixa a sede da legenda em Paris - Sarah Meyssonnier - 11.jun.24/Reuters

"Uma aliança com o RN, com seus candidatos. Uma aliança à direita, com todos os que têm ideias e valores de direita", disse Ciotti em uma entrevista ao canal TF1. "O Republicanos é muito frágil para se opor aos dois blocos mais perigosos", disse ele ainda, em referência à esquerda e ao bloco governista.

Nas horas que se seguiram, uma avalanche de críticas de seu próprio partido mostrou que a estratégia não terá caminho fácil na curta campanha ao pleito, cujo primeiro turno está previsto para o próximo dia 30, e pode custar a liderança da legenda a Ciotti.

Valérie Pécresse, candidata do partido à Presidência em 2022, disse que o eventual acordo com o RN significaria "vender a alma". O presidente do Senado, Gérard Larcher, e a vice-presidente dos Republicanos, Florence Portelli, afirmaram que Ciotti deve renunciar ao cargo de presidente da legenda após a sugestão de aliança com os radicais de Marine Le Pen.

O presidente do RN, Jordan Bardella, diz que sua legenda apoiará deputados dos Republicanos nas eleições legislativas, sem entrar em detalhes sobre as negociações. Uma reunião dos Republicanos está prevista para esta quarta-feira (12), no horário local.

Enquanto isso, o próprio RN se equilibra entre seus valores radicalmente à direita e a tentativa de moderar sua imagem. "Para construir uma aliança e uma maioria, é preciso confiança. Considero, no entanto, que as posições de Eric Zemmour ao longo da campanha europeia, os insultos que dirigiu ao Reunião Nacional e as posições por vezes muito excessivas que ele pode adotar impedem as condições para um acordo", afirmou Bardella, em referência ao líder do Reconquista.

O partido de Zemmour é ainda mais radical em suas posições à direita e teve Marion Maréchal, sobrinha de Marine Le Pen, como nome principal no pleito europeu. Maréchal havia dito mais cedo que o RN "mudou de posição e recusou um princípio de acordo", após ela se reunir com Le Pen e Bardella.

Do outro lado do espectro político, a esquerda anunciou a formação de uma "frente popular" pouco depois de conhecer os resultados do escrutínio europeu. O Partido Socialista, a França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon, o Partido Comunista e os ecologistas decidiram que vão unificar o apoio em um único candidato por distrito eleitoral.

O nome da aliança pode parecer genérico nesse espectro político, mas remete à Frente Popular dos anos 1930, coalizão de agremiações de esquerda que conseguiu eleger a maioria do Parlamento em oposição ao crescimento do fascismo na França e na Europa como um todo.

Não há ainda, no entanto, qualquer definição sobre as negociações internas à nova coligação, que concorreu fragmentada nas eleições europeias justamente em razão da falta de concordância em temas tão divergentes quanto a reforma da Previdência, que levou milhões de pessoas em protesto às ruas, e o posicionamento ante a guerra Israel-Hamas.

Diante do cenário caótico, alguns ministros do governo vindos da centro-direita se opõem ao irresistível movimento aos polos extremos na tentativa de criar uma "frente republicana", ao centro, caracterizando a coalizão de esquerda como liderada pela França Insubmissa, vista como mais radical em relação aos socialistas.

"Mais do que nunca, acreditamos que entre a frente popular da França Insubmissa e a Frente Nacional da extrema direita, existe um caminho por uma frente republicana", escreveram seis ministros do atual governo, entre eles Gérald Darmanin (Interior), Bruno Le Maire (Economia) e Sébastien Lecornu (Forças Armadas), todos do partido do presidente Emmanuel Macron.

Macron, por sua vez, descarta renunciar qualquer que seja o resultado das eleições legislativas. Uma vitória ampla de qualquer uma das coligações à direita ou à esquerda pode significar um restante de mandato em coabitação, termo usado na política francesa para quando um presidente precisa governar ao lado de um premiê opositor.

"As instituições são claras, e o lugar do presidente é claro, seja qual for o resultado", disse Macron em à Figaro Magazine. Nesta quarta, o presidente deve conceder uma entrevista coletiva sobre as eleições legislativas.

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