Descrição de chapéu otan Guerra da Ucrânia

Biden usa cúpula da Otan para demonstrar força ante críticos

Presidente dos EUA sobe o tom contra Putin e busca reiterar poderio militar em encontro do grupo em Washington

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São Paulo

Líderes da Otan, a aliança militar ocidental, renovaram as esperanças da Ucrânia de ingressar na organização nesta quarta-feira (10), na cúpula do grupo em Washington.

Para além de apaziguar os anseios de Volodimir Zelenski, a movimentação busca demonstrar a força do bloco —e de seu líder, os Estados Unidos, em um momento em que o presidente do país, Joe Biden, tenta mostrar que estar apto a exercer o poder apesar das críticas acerca de suas capacidades físicas e cognitivas.

Líderes dos países-membros da Otan posam para foto de família durante a celebração dos 75 anos da fundação da organização, no auditório Mellon, em Washington - Saul Loeb - 9.jul.2024/AFP

Neste segundo dia do encontro, mais de um chefe de Estado afirmou que a Otan não pretende voltar atrás na decisão de aceitar o pleito de adesão ucraniano.

"O debate sobre a Ucrânia se juntar à Otan é inteiramente sobre quando isso vai acontecer, não se isso vai acontecer", disse o presidente da Polônia, Andrzej Duda. Ele acrescentou que o convite ainda não se daria neste encontro, mas que esperava que ele se concretizasse na cúpula do ano que vem.

"Acho que é fundamental enviar ao Kremlin a mensagem de que o caminho para a entrada na Otan hoje é irreversível", afirmou Alexander Stubb, presidente da recém-admitida Finlândia.

A formulação enunciada por Stubb é a mesma que aparece no rascunho da declaração final da cúpula, ao qual a agência de notícias Reuters teve acesso. O texto declara que a aliança continuará a apoiar a Ucrânia "em seu caminho irreversível em direção à plena integração euro-atlântica, incluindo a adesão à Otan".

O documento ainda precisa ser aprovado por todos os países-membros. Além disso, não determina um cronograma ou lista outras garantias concretas de uma união, limitando-se a dizer que a aliança "estará em posição de estender um convite à Ucrânia para se juntar a ela quando os aliados concordarem e as condições forem atendidas".

De todo modo, a possível garantia da entrada de Kiev no grupo representa um avanço em relação ao comunicado da cúpula anterior.

O texto divulgado em 2023 dizia apenas que "o futuro da Ucrânia está na Otan" e autorizava a nação a pular algumas das etapas obrigatórias para se juntar à aliança em razão do conflito em curso —uma ironia, dado que uma das principais justificativas de Vladimir Putin para invadir a nação vizinha era justamente impedir a expansão do clube militar liderado pelos EUA para perto das suas fronteiras.

"É uma mensagem forte dos aliados da Otan, de que queremos que a Ucrânia se junte a nós, que estamos trabalhando com ela para que isso aconteça", afirmou o secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg, sobre o rascunho. Ele, que é norueguês, preside um encontro do grupo pela última vez antes de ser substituído pelo holandês Mark Rutte no cargo.

A Ucrânia, representada no evento pelo próprio Zelenski, recebeu outras boas notícias durante a cúpula. A declaração final promete, por exemplo, o envio de mais de R$ 200 bilhões para Kiev ao longo de 2025.

Além disso, também na quarta, Stoltenberg afirmou que há planos para a criação de um Comando da Otan específico para Kiev, oferecendo assistência de segurança e treinamentos para as suas tropas, além de um acordo de longo prazo.

E na terça (9), na abertura da cúpula, os países-membros haviam anunciado a entrega de mais cinco sistemas antiaéreos Patriot e outros equipamentos estratégicos para defesa.

Ainda mais pacotes de ajuda devem ser anunciados até o fim do evento, segundo disse o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, em um evento paralelo.

As sinalizações representam um alento para um país que tem visto as tropas da Rússia avançarem gradativamente sobre o seu território desde o fracasso de sua contraofensiva de 2023 —e que corre o risco de perder seu maior apoiador no conflito, os EUA, a depender do resultado das eleições presidenciais do país em novembro.

Enquanto o atual presidente, o democrata Joe Biden, defende manter a ajuda militar à Ucrânia, seu rival, o republicano Donald Trump, critica a dimensão desse apoio. Dados do Instituto para a Economia Mundial de Kiel, na Alemanha, mostram que Washington é o maior patrocinador de Kiev, tendo doado R$ 430 bilhões para o país ocupado, sendo R$ 295 bilhões só em assistência militar.

As conversas sobre as eleições presidenciais americanas têm, aliás, contaminado a cúpula deste ano, que coincide com um momento em que Biden sofre cada vez mais pressão interna acerca de sua capacidade de comandar a maior potência mundial.

De sua parte, o democrata vem tentando usar o destaque que já receberia naturalmente durante o evento em Washington para provar que ainda está apto a exercer o poder.

Na terça, em seu discurso de abertura, ele mandou um recado direto a Vladimir Putin ao dizer que o presidente russo quer "nada menos que a subjugação total da Ucrânia e apagá-la do mapa", mas que Kiev "pode e vai" pará-lo.

Já nesta quarta, os EUA anunciaram que vão instalar mísseis de longo alcance na Alemanha em 2026, medida que teria sido proibida sob um tratado de controle de armas entre americanos e russos suspenso em 2019. Entre os modelos que devem ser enviados estão o SM-6 e o Tomahawk. Serão alguns dos equipamentos militares americanos mais potentes a serem implantados na Europa desde os anos 1980.

A aliança também anunciou ter finalizado a construção de uma nova base de defesa aérea dos EUA no norte da Polônia. O local foi desenhado para detectar e interceptar mísseis balísticos como parte de um escudo antiaéreo mais amplo da Otan.

A despeito dos esforços de Biden, vários funcionários de alto escalão europeus vêm se reunindo com um importante assessor de política externa de Trump em paralelo ao encontro.

Líderes de alguns dos principais países da Otan vivem fases de grande incerteza política, caso da França, que arrisca ter seu governo paralisado depois de as eleições legislativas dividirem o Congresso em três, e da Alemanha, onde a extrema direita registrou um avanço sem precedentes nas eleições ao Parlamento Europeu.

Todos parecem, contudo, concordar acerca da ameaça representada pela China, que no comunicado final é acusada de ter sido decisiva para permitir o esforço de guerra russo. O documento ordena que Pequim, que assinou um tratado de "amizade sem limites" com Moscou às vésperas da Guerra da Ucrânia, suspenda toda ajuda material e política à Rússia.

De novo, é um tom acima daquele da declaração final do ano anterior, quando a Otan se limitou a dizer que os chineses usavam "políticas coercitivas" que desafiavam os valores e segurança de seus 32 integrantes.

Em fevereiro de 2023, um ano depois do início do conflito no Leste Europeu, a China divulgou uma proposta para a paz na região.

O documento, que não faz menção ao futuro dos territórios da Ucrânia anexados pela Rússia em um plebiscito considerado ilegal pela maioria da comunidade internacional, foi criticado pelos países ocidentais, que disseram que Pequim não tem legitimidade para guiar um processo de paz dada a proximidade entre Putin e o dirigente Xi Jinping.

Com Reuters

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