Petro pede novas eleições e governo de transição na Venezuela

Criticado pela pouca contundência diante do impasse no país vizinho, presidente segue Brasil ao falar em mais um pleito

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São Paulo

Pouco mais de meia hora após citar um acordo que colocou fim a uma ditadura na Colômbia como experiência válida para a Venezuela, o presidente Gustavo Petro fez uma espécie de lista com propostas para solucionar a crise no país vizinho.

"Suspensão de todas as sanções contra a Venezuela. Anistia geral nacional e internacional. Garantias totais à ação política. Governo de coabitação transitório. Novas eleições livres", escreveu ele nesta quinta-feira (15), na rede social X.

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, discursa em cerimônia de escola militar em Bogotá - Luis Acosta - 9.jul.2024/AFP

Não ficou claro qual seria a ordem dessas medidas, nem o que exatamente cada uma delas significa.

Ele afirmou ainda que um acordo político interno no país seria o melhor caminho para a paz. "Depende apenas dos venezuelanos", concluiu o colombiano, que vinha sendo criticado pela falta de posicionamentos mais firmes em relação à ditadura.

A proposta de novas eleições, porém, não é inédita e já foi rechaçada tanto pelo regime liderado por Nicolás Maduro quanto pela oposição. Nesta quinta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ecoou seu assessor para assuntos internacionais, Celso Amorim, ao ventilar o plano durante uma entrevista.

"Tem várias saídas, ou faz governo de coalizão, uma composição", afirmou o petista à Rádio T, em Curitiba. "Se [Maduro] tiver bom senso, podia tentar fazer uma conclamação ao povo da Venezuela, quem sabe até convocar novas eleições."

Horas antes, na noite desta quarta-feira (14), Diosdado Cabello, vice-presidente da sigla do ditador, o PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), classificou a ideia de "estupidez". "Não vamos repetir eleições coisa nenhuma", afirmou ele em seu programa.

Uma solução de compartilhamento de poder com o chavismo ou um novo pleito tampouco animam a líder opositora, María Corina Machado. "Vocês aceitariam isso nos seus países? Que os resultados, se não são satisfatórios, levem a novas eleições?", afirmou ela em uma entrevista coletiva.

Antes de elencar as propostas em seu perfil, Petro havia mencionado o acordo colombiano que colocou fim à ditadura de Gustavo Rojas Pinilla na Colômbia, durante o século 20, como uma inspiração para a Venezuela. "A experiência da Frente Nacional colombiana é uma experiência que, usada transitoriamente, pode ajudar na solução definitiva", afirmou o político.

O Pacto de Sitges, batizado em homenagem à cidade espanhola onde foi firmado, em 1957, nasceu de um acordo entre o liberal Alberto Lleras Camargo e o conservador Laureano Gómez —negociação que forjou a Frente Nacional e ajudou a derrubar a ditadura naquele mesmo ano. A coalizão governou o país nos termos acordados até 1974.

O impasse entre o regime venezuelano e seus críticos se estende desde as eleições de 28 de julho —ambas as partes afirmam que ganharam o pleito, mas o adversário do ditador, Edmundo González, tem o respaldo de diversas organizações independentes que verificaram as atas eleitorais da oposição.

Primeiro presidente de esquerda da Colômbia, Petro começou seu governo em 2022 com a expectativa de ter um papel de destaque na solução da crise —sua nação é a que mais recebe pessoas da diáspora venezuelana. Dos 7,7 milhões de migrantes que saíram do país desde o início da crise, 2,8 milhões foram para a Colômbia.

Os países estavam rompidos desde 2019, quando seu antecessor, Iván Duque, reconheceu o líder opositor Juan Guaidó como chefe de Estado. Logo após a posse, Petro reabriu a embaixada em Caracas, deixou de reconhecer o governo paralelo e reativou os principais postos fronteiriços entre os países. Medidas mais relevantes, porém, ficaram no caminho.

No começo de agosto, Colômbia, México e Brasil —países atualmente governados por líderes de esquerda—, tentaram, por meio de um comunicado conjunto, pressionar o regime a publicar as atas eleitorais que comprovariam a vitória do líder.

Em vez de apresentá-las ao público, como rege e lei venezuelana, Maduro manobrou para transferir a responsabilidade de chancelar os documentos ao Tribunal Superior de Justiça (TSJ) —corte, assim como as principais instituições do país, aparelhada pelo regime.

Diante da falta de resposta ao pedido, os três países voltaram a defender, na semana passada, a publicação dos documentos e destacaram que a divulgação transparente dos resultados eleitorais cabe ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

Mais recentemente, no entanto, o México recuou. Na última terça-feira (13), o presidente Andrés Manuel López Obrador disse que não conversaria mais com seus homólogos na Colômbia e no Brasil sobre a crise política na Venezuela e disse que é preciso esperar a resposta do TSJ.

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