Descrição de chapéu Equador

Presidente do Equador é acusado de violência política por vice, e governo fala em tentativa de golpe

Denúncia de Verónica Abad poderia levar a suspensão de direitos políticos de Daniel Noboa por quatro anos

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São Paulo

A animosidade entre o presidente do Equador, Daniel Noboa, e sua vice, Verónica Abad, atingiu um novo patamar nesta quarta-feira (14), quando um ministro do governo chamou de "tentativa de golpe de Estado" a acusação de violência política que a número dois moveu contra o líder do país.

"A denúncia apresentada por Verónica Abad no TCE [Tribunal Contencioso Eleitoral], que pede a destituição do presidente Noboa e sua suspensão da participação política por quatro anos, é uma tentativa grosseira de desestabilização e constitui descaradamente uma clara tentativa de golpe de Estado", afirmou o ministro de Governo, Michele Sensi-Contugi.

O presidente do Equador, Daniel Noboa, assina decretos para nomear ministros ao lado da vice-presidente, Verónica Abad, no dia de sua cerimônia de posse, no Palácio de Carondelet, em Quito - Karen Toro - 23.nov.2023/Reuters

"É vergonhoso o nível de desprezo dos que estão por trás dessa denúncia, porque deslegitimam a vontade popular expressa nas urnas e querem impedir sua participação eleitoral ao ver que não tem alternativa", continuou o chefe da pasta, em um comunicado duro de uma figura política que não costuma dar declarações públicas.

A desavença entre os dois remonta à campanha que deu vitória à chapa em outubro de 2023. Em maio deste ano, Abad afirmou ao jornal espanhol El País que Noboa foi desleal com ela. "Concordamos em cumprir um projeto político e esse projeto foi traído", disse. No momento da entrevista, eles não se falavam desde que haviam sido eleitos, segundo a vice-presidente.

Uma das primeiras medidas de Noboa após a posse, em novembro do ano passado, foi um decreto para nomear Abad "embaixadora da paz" em Israel —então em guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza há quase dois meses.

"O presidente me quer longe", afirmou Abad na época. A vice-presidente vê a função em Tel Aviv como uma punição, uma vez que o Equador nunca teve um papel relevante nos esforços de paz no Oriente Médio.

Desde então, argumenta ela, o governo começou uma campanha para pressioná-la a renunciar —as leis no país impedem o presidente de destituí-la. Escolhido por seu partido para concorrer à reeleição em 2025 na última sexta-feira (9), Noboa deve entregar temporariamente a Presidência a Abad quando registrar sua candidatura.

Na última terça-feira (13), a vice-presidente —que, durante a campanha, afirmava que a violência de gênero era um mito— denunciou Noboa por violência política de gênero. Segundo o documento judicial, visto pela agência de notícias Reuters, Noboa a marginalizou injustamente e prejudicou a representação igualitária das mulheres em seu governo.

"[O presidente] reduziu minha participação como mulher nas decisões políticas de Estado, tentando me remover totalmente da vida pública do país quase ao ponto de fazer desaparecer a figura institucional política da vice-presidente", diz o documento. "Fui praticamente banida para outro país no meio de uma guerra, eles removeram a segurança que eu mereço."

A ação também menciona o vice-ministro do governo, Esteban Torres, a assessora presidencial Diana Jacome e a ministra das Relações Exteriores, Gabriela Sommerfeld. Os supostos atos de violência política podem remover Noboa de suas posições, proibi-lo de ocupar cargos públicos por quatro anos e obrigá-lo a pagar uma multa de 70 salários mínimos mensais, segundo o documento.

A chanceler também se manifestou nesta quarta ao afirmar, pela rede social X, que "se forja da pior maneira um golpe de Estado disfarçado de sanção eleitoral que somente busca instabilidade e atenta contra a vontade dos cidadãos".

"Meu total respaldo ao presidente dos equatorianos, Daniel Noboa, que de forma frontal e sem hesitar declara guerra ao crime organizado e à corrupção", continuou, em referência ao conflito armado interno declarado pelo presidente no começo do ano, após uma onda de violência no país.

Com Reuters e AFP

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