O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, falou sobre a ordem de prisão contra Edmundo González na noite desta segunda-feira (3), logo após o Ministério Público do país pedir a detenção de seu principal adversário nas eleições presidenciais do final de julho.
"Ninguém neste país está acima das leis e das instituições, como pretende esse senhor escondido, o covarde Edmundo González Urrutia", afirmou o líder do regime durante seu programa semanal na televisão estatal. "O Ministério Público o citou três vezes e ele não compareceu, pois diz que não reconhece o Ministério Público. Em que país isso acontece?"
A ordem de captura era esperada desde a última sexta-feira (30), quando González deixou de comparecer, pela terceira vez, a uma audiência que ocorreria no âmbito de uma investigação sobre a denúncia de fraude no pleito por parte de opositores.
Em outras ocasiões, o diplomata afirmou que o Ministério Público atua como um "acusador político" e que seria submetido a um processo "sem garantias de independência ou devido processo legal" caso respeitasse a intimação. Ainda na segunda, seu porta-voz afirmou à agência de notícias Reuters que ele não havia sido notificado de qualquer mandado de prisão.
González entrou na corrida contra Maduro como um candidato tampão após a principal líder opositora do país, María Corina Machado, ser inabilitada politicamente, e a primeira opção para substituí-la, Corina Yoris, não conseguir se inscrever.
Atualmente, ele é acusado de desobediência das leis, falsificação de papéis públicos, conspiração, usurpação de funções e sabotagem —crimes que, em teoria, podem resultar na pena máxima de 30 anos de reclusão.
As acusações estão relacionadas à publicação das atas da votação colhidas pela oposição no dia do pleito. Os documentos, disponíveis em um site e revisados por diversas organizações internacionais independentes, indicam que González venceu com mais de 7,3 milhões de votos (67%), contra 3,3 milhões de Maduro (30%).
Embora conteste a veracidade das informações, o regime ainda não divulgou as atas que comprovariam a vitória de Maduro com 52% dos votos.
Diante da turbulência polícia, o ex-diplomata não aparece em público desde 30 de julho, quando participou de uma manifestação contra o regime. Desde então, vem limitando sua atuação às redes sociais por temor de represálias.
Países que já vinham criticando a condução do regime na crise política que se instalou no país após a votação voltaram a se pronunciar depois da nova ofensiva contra González.
"Rejeitamos de maneira inequívoca e absoluta a ordem de prisão", afirmaram Costa Rica, Argentina, Guatemala, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai em um comunicado conjunto. "A ordem de apreensão cita vários supostos crimes que não passam de mais uma tentativa de silenciar González e ignorar a vontade popular venezuelana."
Além do grupo, formado por países com líderes de diversas colorações políticas, o Chile também se manifestou nesta segunda. A chancelaria do país disse que "rejeita energicamente a ordem de detenção" e "qualquer forma de repressão contra opositores ao regime ditatorial na Venezuela".
"O governo do Chile faz um apelo para que sejam respeitados os princípios democráticos, bem como os direitos humanos e as liberdades fundamentais de todos os venezuelanos", afirmou a pasta. O presidente chileno, Gabriel Boric, é o mais vocal crítico do regime de Maduro entre os líderes de esquerda da região.
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