"Olá! Boa noite! Seja bem-vindo. A carta de drinques está no QR code, mas me conta: o que você quer beber hoje?" É com essa intrigante pergunta que Ricardo Miyazaki recebe quem passa por uma das pequenas portinhas de uma galeria na região da avenida Paulista. Ali, quase todas as noites, ele e Naomi, sua companheira há três décadas, guiam os visitantes por uma viagem etílica.
Miyazaki sempre foi apaixonado pela coquetelaria. "Por beber, na verdade", debocha ele, que, como muitos, também pensava em ter um bar. Em 2019, depois de anos colecionando garrafas e fazendo drinques em casa para sua esposa, o sonho começou a ganhar contornos de realidade em uma viagem ao Japão, terra natal da sua família.
Se embrenhando pelas inúmeras portinhas do país, foi ganhando repertório e se encantando com a fusão da coquetelaria com a omotenashi, a cultura japonesa da "hospitalidade que vem do coração". Percebeu ali que essa delicada combinação seria o seu passaporte para deixar a vida corporativa em busca de trocas mais significativas. Surgia o The Punch Bar.
Por noite, o bar não recebe mais do que 34 clientes —metade em cada uma das duas sessões, sempre com reserva. Todos são recepcionados com água ("bebam! é vida!", diz Naomi) e amendoins. O tratamento é sempre pelo nome. O gosto do freguês define o drinque, e o serviço, ainda que informal, supera o de muitas casas estreladas. Não só pelos cuidados sutis, como pedir licença antes de fazer barulho no preparo das bebidas, mas pela atenção dada a cada comensal —isso, sim, o grande barato do The Punch.
Você gosta drinque doce ou amargo? Seco ou suave? Com qual base alcoólica? Do que você não gosta? A cada pergunta, o algoritmo (só pode ser!) da cabeça de Miyazaki vai decifrando o gosto do cliente. E, muitas vezes, derrubando preconceitos como "uísque é forte" ou "não gosto de cachaça".
"No meu trabalho anterior, fazia pesquisa de mercado. Trouxe isso para o bar. É legal entender o psicológico das pessoas e usar isso para surpreendê-las", diz ele, orgulhoso dos clientes que saíram de lá com certezas subvertidas, sorriso no rosto e um desejo de voltar ao balcão. Afinal, hospitalidade é isso. E beber bem, também.
The Punch Bar
R. Manuel da Nóbrega, 76, loja 17, Paraíso, região sul, @thepunchsp
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