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O desafio dos serviços públicos de fazer direito as coisas do dia a dia

Confiabilidade explica a vitória do Metrô na categoria serviços públicos; já o SUS ganha por ser necessário

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Mauro Calliari

Administrador de empresas pela FGV, doutor em urbanismo pela FAU-USP e autor do livro 'Espaço Público e Urbanidade em São Paulo'

Serviço público é daqueles assuntos que a gente normalmente só comenta quando vai mal. O ônibus que atrasou. A professora da creche que não foi. A consulta que foi adiada.

Mas, felizmente, há aqueles momentos em que tudo dá certo, seu problema é resolvido, surge o gesto competente acompanhado de um sorriso inesperado.

O dia em que fui ao Poupatempo, passei pelo exame médico, tirei foto, confirmei dados e recebi a carteira de motorista em casa alguns dias depois sem contratempo algum.

Fido Nesti

O dia em que peguei um ônibus de Perdizes para o centro e a motorista dirigia concentradamente, negociando os buracos e as canaletas estreitas, enquanto os passageiros pareciam mais calmos com sua condução segura e amigável.

O leque de serviços públicos é tão vasto que parece não ter fim, abrangendo desde a manutenção dos parques até a qualidade da escola, passando pela zeladoria dos bairros, a segurança, a reforma dos calçadões do centro e quase tudo o que a vista alcança.

Os serviços mais difíceis de agradar, porém, são justamente aqueles que acontecem diariamente, na fricção do cotidiano. Algo que é repetido diariamente, milhões de vezes por dia, aumenta a chance de falhas. É o território dos buracos, do emaranhado de fios, das lâmpadas que quebram. Para cuidar de fluxos —como gás, eletricidade, gente, água— não há férias ou domingos. Eles precisam continuar circulando, sem falhas.

Assim, chama a atenção a lista dos vencedores no levantamento do Datafolha: Metrô e SUS.

Como o ônibus e o trem, o metrô também lota. A linha vermelha está entre as mais cheias do mundo. Que os paulistanos avaliem relativamente bem o serviço mostra a importância de um aspecto negligenciado no transporte: a confiabilidade.

Sim, há quebras e atrasos (e elevadores irritantemente quebrados, para desespero de meus amigos cadeirantes), mas quando a telinha mostra que faltam 2 minutos e 37 minutos para o próximo trem, ele normalmente chega nesse tempo, aumentando um pouquinho nossa confiança em horários, pessoas e instituições.

Apesar dos mal-educados que bloqueiam as portas, essa confiança parece se concretizar no espetáculo cotidiano das filas nas escadas rolantes, oferecendo a esquerda para a passagem dos que têm pressa mesmo nos dias mais cheios.

As linhas privatizadas e as não privatizadas funcionam com nível de serviço parecido, mas, dado o desbalanço contratual, é possível que venhamos a assistir no futuro a mais diferenças do que o sotaque das mensagens em inglês ou os naming rights sem inspiração, que andam associando as estações que conhecemos a marcas comerciais.

Quanto ao SUS, o crescimento de sua avaliação durante a pandemia foi um diploma de sua relevância. Ter-se mantido entre os primeiros depois dela, uma constatação de que funciona.

Há espera pelas consultas? Há prazos enormes para agendamento de cirurgias? Há equipamentos subutilizados? Sim para todas. Mas estamos falando de uma rede de atendimento com unidades de todos os tamanhos e especialidades.

A cidade parece reconhecer que, mesmo com a profusão de planos de saúde e hospitais privados, a saúde geral ia ser bem pior se não tivéssemos o SUS.

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