Um spoiler para quem vai ao taiwanês Aiô, eleito novidade do ano nesta edição d’O Melhor de São Paulo: uma salada de tomate nunca mais será igual.
A surpresa é a ideia que dá nome à casa —"aiô" é uma exclamação em mandarim diante do inesperado— e vida ao que se serve ali. Os dez pratos que compõem o menu, mais duas sobremesas, são o preâmbulo para olhos arregalados e murmúrios de feliz descrença. Como é tão bom? Por que a cidade não conheceu antes a culinária de Taiwan?
Não espere encontrar ecos do debate político acalorado acerca do desejo de independência da província chinesa cujo pleito ajuda a instigar fricções entre Estados Unidos e China. A casinha numa rua pulsante da Vila Mariana é só acolhimento, da fachada em tons pastéis ao simpático pátio contíguo ao salão.
O local já abrigou o Mapu, irmão mais velho e mais casual do restaurante, que migrou alguns metros com sua excelente comida de rua. No Aiô, aberto em agosto de 2023, os sócios redobraram a ousadia,
propondo técnicas e apresentações contemporâneas para ingredientes há séculos no dia a dia taiwanês.
O tomate já entrega: fatiado e suculento, é tomate mesmo, mas a rega de vinagre, molho garum (um fermentado geralmente à base de ostras ou peixe) e os pedaços de moyashi crocante que ele recebe mudam o jogo. Assim seguem o crudo de peixe com molho ponzu, os cogumelos banhados num surreal molho de alho (e acompanhados de macarrão frito), as ostras com chili e arroz negro.
Estrelas da cozinha asiática, baos (pãezinhos feitos no vapor) e dumplings (massa delicada recheada) são preenchidos com misturas que contrastam no paladar, uma brecha para o excesso se não fosse a delicadeza dos chefs Caio Yokota e Victor Valadão, sócios de Duilio Lin (criador do Mapu e único de ascendência taiwanesa do trio). A oferta varia, portanto não pestaneje se o bao de peixe frito der as caras.
São porções pequenas, para compartilhar. O grelhado de copa-lombo e o peixe ao vapor de sabor sutil e textura perfeita podem fazer as vezes de principais; a ideia, porém, é provar de tudo e ainda pedir baos para chuchar os molhos.
A carta de drinques também inova sobre bases sólidas e merece atenção dos entusiastas da coquetelaria; já o serviço, ágil e atencioso, carece de ligeiro ajuste para não apressar o comensal. Tudo a seu tempo. Defeito, defeito mesmo, o Aiô tem um: ainda não abre para almoço.
AIÔ
R. Áurea, 307, Vila Mariana, região sul, tel. (11) 5083-4778, @aiorestaurante
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