A formação do diplomata no Brasil

Crédito: Pedro Ladeira - 9.mar.2017/Folhapress BRASILIA, DF, BRASIL, 09-03-2017, 12h00: Fotos do ambientes, obras e detalhes do palácio do Itamaraty. O palácio, que é a sede do Ministério de Relações Exteriores brasileiro, completa 50 anos nesse mês. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, ILUSTRADA) ***ESPECIAL***
Fachada do Palácio do Itamaraty, em Brasília

O Instituto Rio Branco (IRBr), fundado em 1945, é das mais antigas academias diplomáticas no mundo e pioneira na América Latina. Desde então, é a única porta de entrada à carreira diplomática no Brasil, desempenhando, assim, papel central na forte institucionalidade do Itamaraty na formulação e execução da política externa brasileira.

O concurso do IRBr, que se realiza anualmente, desde 1946, sem nenhuma interrupção, continua bastante concorrido e assegura afluxo regular de recursos humanos bem preparados. Nos últimos anos, cerca de 6.000 candidatos disputaram as 30 vagas oferecidas.

Apesar de permanecer inalterado há bastante tempo, o núcleo central de provas das distintas fases do concurso —Português, Línguas Estrangeiras, História, Economia, Direito, Política Internacional—, o fato é que tem mudado gradualmente o perfil dos diplomatas aprovados. Eles agora vêm de praticamente todas as regiões do Brasil, e crescentemente de cidades médias e não apenas dos grandes centros.

Os sobrenomes dos que ingressam hoje espelham a rica diversidade étnica brasileira e refletem origens em estratos sociais muito diferentes. Quem se der ao trabalho de contrastar uma foto das atuais turmas do Rio Branco com outra de 30 anos atrás logo se dará conta de que se democratizou enormemente o acesso à carreira, sem nenhum prejuízo ao nível de exigência demandado dos postulantes. Esse desenvolvimento é muito positivo.

Embora se trate de atividade muito antiga, a diplomacia profissionalizou-se no século 20. Obra importante sobre a formação de diplomatas, intitulada "Developing Diplomats: Comparing Form and Culture Across Diplomatic Services" e publicada em maio passado pela Universidade do Texas, assinala que "a profissionalização ocorreu em todas as áreas na sociedade do século 20, mas foi especialmente pronunciada na diplomacia."

Das duas guerras mundiais resultaram, como se recorda, as organizações internacionais, e com elas o multilateralismo. Por sua vez, o processo de descolonização na África e na Ásia, na segunda metade do século 20, levou à criação de chancelarias nos novos países independentes. Em decorrência, a atividade diplomática multiplicou-se.

Nessa nova realidade, que em boa parte vem até os dias de hoje, já não havia espaço para amadorismo. Fazia-se necessário contar com profissionais, que os Estados investissem recursos para atender à demanda de funcionários especializados, à altura do desafio de negociar temas complexos.

Surgiu assim, na segunda metade do século 20, personagem que se converteu em presença obrigatória no mapa social e político do nosso tempo: os diplomatas profissionais, assim caracterizados pelo fato de que são recrutados e promovidos com base no mérito e de que recebem treinamento especializado e continuado para o bom exercício de sua função.

Essa é, entre nós, no Brasil, a razão de ser do IRBr, instituição que se consolidou tanto como referência internacional entre as academias diplomáticas como marco nacional entre as instituições de ensino do funcionalismo público.

JOSÉ ESTANISLAU DO AMARAL, 61, é diretor-geral do Instituto Rio Branco

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