Compreensível dos pontos de vista político e do mercado, a decisão da Folha de tirar seu time de campo no Facebook parece-me falhar em apenas um aspecto: o compromisso com o seu público. No jornalismo, entretanto, esse é o aspecto mais importante.
Para o negócio digital de um jornal, o Facebook já não tem mais a mesma importância. No último ano houve uma queda considerável de acessos com essa origem, o que tende a se acentuar com as mudanças no algoritmo da ferramenta.
Tampouco me parece uma decisão equivocada do ponto de vista político. Se estar no Facebook não é algo particularmente lucrativo para um jornal, estar fora dele é, sim, um statement importante, especialmente em meio a um debate sobre quão nocivas são as bolhas de pensamento e ideologia incentivadas por esse mesmo conjunto de linhas de código.
É pela particularidade da atividade jornalística, contudo, que avalio a decisão da Folha como errada. Assinalo aqui dois motivos pelos quais um jornal precisa estar ativamente no Facebook.
O primeiro é uma questão ética. Se há proliferação de notícias falsas na rede, é obrigação dos veículos sérios de jornalismo combatê-la, enriquecendo esse debate.
Há uma iniciativa do próprio Facebook que criaria uma ferramenta de ranqueamento da confiabilidade dos veículos a partir de avaliações dos usuários. Parece-me precipitado deixar a plataforma digital antes da concretização desse projeto.
Além disso, se todos os veículos sérios saírem, sobrarão apenas os capciosos, o que deixaria 2 bilhões de pessoas à mercê do que não se quer, a desinformação.
A obrigação ética de um jornal, um produto diferente dos demais por ter vocação de ferramenta da sociedade, é contribuir para a iluminação do que parece uma zona de trevas, mas que é, afinal, parte constituinte da esfera pública.
Em segundo lugar, chamo a atenção para a função principal do Facebook: conectar pessoas.
Organizar comunidades, como já escreveu o professor Jeff Jarvis, da City University de Nova York, pode ser uma grande função do jornalismo na atualidade, fator determinante para a superação das crises econômica e de reputação em que a atividade se encontra.
Veículos como o jornal “The Boston Globe”, a rádio NPR e o digital “Vox” utilizam o Facebook para criar comunidades de leitores, fixando laços fortes entre eles.
É uma forma de atrair debates construtivos e potenciais assinantes digitais e disseminadores orgânicos de conteúdo.
Nesse sentido, o Facebook permanece uma importante fonte de audiência —menos numerosa do que antes, porém mais engajada, comprometida e disposta a pagar por conteúdo envolvente e de qualidade.
O editor do site “Verge”, Casey Newton, acertou ao afirmar que a “política do Facebook mostrará quem tem audiência e quem tem apenas tráfego”. Sendo as assinaturas digitais o norte para a subsistência de um jornalismo independente, parece-me que a primeira opção é o alvo mais correto.
Compreender o tamanho do seu público e trabalhar com e para ele é a melhor estratégia. Talvez em um futuro próximo existam locais mais apropriados e produtivos para o encontro do jornalismo com seus consumidores. Por enquanto, todavia, tal possibilidade ainda passa pela rede social mais populosa do mundo.
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