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Tragédia paraense

Tentativa de resgate de presos deixou um saldo provisório de 21 mortos e 4 carcereiros feridos

Parentes de presos do Centro de Recuperação Penitenciário do Pará III, no Complexo Prisional de Santa Izabel, na região metropolitana de Belém
Parentes de presos do Centro de Recuperação Penitenciário do Pará III, no Complexo Prisional de Santa Izabel, na região metropolitana de Belém - Bruno Santos/Folhapress

Um grupo de criminosos tentou resgatar presos de uma penitenciária na região metropolitana de Belém, no Pará, e provocou uma carnificina. A ação, na qual se utilizaram explosivos, deixa um saldo provisório de 21 mortos e quatro carcereiros feridos.

O que chama a atenção no episódio, além dos números trágicos, é o fato de que ele já havia de algum modo sido previsto pelas autoridades. Em fevereiro, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) fez vistoria no complexo penal de Santa Izabel, na qual alertava para o risco de fugas em massa.

Apontavam-se ainda as péssimas condições do presídio, superlotado e de segurança precária ao extremo. Exigiram-se providências, que não foram tomadas.

O Pará está longe de ser um caso isolado. A situação na maior parte das penitenciárias brasileiras constitui escândalo. Elas não apenas se tornaram território onde direitos humanos são sistematicamente violados, com o beneplácito do Estado, como também se converteram em mecanismo que alimenta o banditismo organizado.

Com efeito, a situação no sistema carcerário se mostra tão desumana que, quando um jovem delinquente é lançado ali, precisa de proteção para sobreviver. Ele em geral a obtém filiando-se a alguma facção criminosa.

Interromper esse ciclo seria tarefa difícil mesmo que os estados não enfrentassem as graves dificuldades orçamentárias atuais.

Em primeiro lugar, demanda-se um Judiciário mais eficiente, com julgamentos mais céleres. Assusta que 40% da população carcerária seja composta por presos provisórios, que não tiveram o mérito das acusações contra eles analisado nem na primeira instância.

Há ainda que reduzir de forma significativa o número de presos. Isso exige reformas nas leis, de modo a ampliar a aplicação de penas não restritivas de liberdade, mas também na cultura dos operadores do direito, que ainda veem a cadeia como o destino natural de quem infringe a lei.

Este pensamento, embora compreensível num país tão violento, tem se provado caro e contraproducente para a sociedade.

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