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A ameaça das facções

PCC dá sinais de que pretende derrotar seus rivais e assumir hegemonia do crime

Marca de bala em vidro de agência bancária no Morumbi, na capital paulista, durante onda de ataques atribuídos ao PCC em 2006
Marca de bala em vidro de agência bancária no Morumbi, na capital paulista, durante onda de ataques atribuídos ao PCC em 2006 - Rogério Cassimiro - 9.ago.06/Folhapress

Criada em 1993 por um grupo de marginais de alta periculosidade da capital paulista, que fora enviado para o presídio de Taubaté, no interior, a organização criminosa Primeiro Comando da Capital já congrega e controla um exército de presidiários e bandidos fora de seu estado de origem.

Segundo estimativas da polícia, o número ultrapassaria 20 mil filiados além das fronteiras de São Paulo, onde a associação contaria com mais de 8.000 membros.

O grupo alcançou maior notoriedade em 2006, quando liderou uma série de ataques sangrentos a forças policiais, instituições públicas e alvos civis que aterrorizou dezenas de cidades.

Em que pese a verdadeira guerra que se moveu, desde então, contra membros da facção, são enfáticos os sinais de que o PCC segue em suas investidas para derrotar organizações rivais e se impor como agente hegemônico do crime organizado em plano nacional.

Pouco depois do assombroso fuzilamento de um de seus desafetos na zona leste paulistana, na segunda (22), quando se contaram ao menos 70 cápsulas de projéteis disparados contra o automóvel blindado que o abrigava, vieram à luz informações da Polícia Civil sobre um plano para ampliar o recrutamento de associados para a facção.

De acordo com os relatos disponíveis, a campanha pretende engajar 1.000 novos afiliados por mês. Para incentivar a arregimentação, a cúpula criminosa decidiu suspender por um período o pagamento mensal que seus integrantes são forçados a realizar.

Tais informações, com todos seus detalhes infames, que afrontam a sociedade, as leis e a ordem, apenas reforçam a necessidade inadiável de o Estado brasileiro assumir seu papel precípuo de mantenedor da segurança pública e enfrentar de modo decidido e eficaz o PCC e seus concorrentes.

Estes já assumem dimensões alarmantes, com tentáculos que se insinuam sobre os Poderes nacionais, até mesmo por meio de financiamento e participação eleitoral.

Trata-se, sim, de reprimir essas associações, mas sobretudo de ir às raízes do problema, a começar pelo descontrole do sistema prisional e sua superlotação.

Foi o próprio presidente Michel Temer (MDB), ao lançar em fevereiro a intervenção federal na área de segurança do Rio de Janeiro e anunciar a criação de uma pasta para a Segurança, quem classificou os presídios brasileiros de “escritórios de bandidos”. Até aqui, no entanto, pouco ou nada se fez para mudar esse quadro. 

Além de aumentar a quantidade de vagas e retomar o controle dessas instituições, é indispensável que se considere uma revisão da atual política de aprisionamento, que tem servido para abarrotar penitenciárias com pessoas que nem sequer foram julgadas ou se viram condenadas por delitos passíveis de penas alternativas.

É fundamental limpar esse terreno fértil para a coação e o alistamento de novos soldados do crime.

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