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Roberto Giannetti da Fonseca

O desastre dos extremos

Eleitores e candidatos de centro têm de se mobilizar

Montagem com foto de Fernando Haddad e Jair Bolsonaro - Rodolfo Buhrer/Reuters e Nelson Almeida/AFP

Dias atrás, acordei sobressaltado de madrugada, com o sentimento de pânico e angústia que agora toma conta de muitos corações e mentes brasileiros. Recentemente, li três artigos nesta Folha, de Celso de Barros, Marcelo Coelho e Joel Pinheiro da Fonseca, que reforçaram ainda mais minha convicção de que as pesquisas eleitorais apontam de fato para um desastre anunciado: o desastre dos extremos.

Caso venhamos a ter um segundo turno entre os candidatos Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, a provável radicalização dos discursos dos seus fanáticos eleitores ameaça levar a democracia brasileira para um grave risco institucional.

Vivemos uma sequência de "décadas perdidas", a ponto de hoje em dia prevalecer em milhões de brasileiros o sentimento de que nosso país está fadado ao fracasso e que seria melhor abandoná-lo à própria sorte. Daí a célebre frase de Eduardo Campos em 2014, na véspera de sua trágica morte: "Jamais vamos desistir do Brasil", a qual deveria novamente ser o mantra das eleições de 2018.

Neste momento, "não desistir do Brasil" significaria evitar que a polarização resultante da eventual eleição de um dos extremistas, seja da esquerda ou da direita, venha a aprofundar essa divisão do país e o torne ingovernável no futuro próximo. Soa como atual uma famosa frase de Jean-Paul Sartre quando escreveu, em 1946, o ensaio "Reflexões sobre a Questão Judaica": "Se o judeu não existisse, o antissemita o criaria."

A menos que os candidatos de centro e seus eleitores, que são a maioria absoluta no conjunto do eleitorado brasileiro, se mobilizem a tempo, não teremos como evitar esse desastre anunciado.

Sei que muitos devam achar que eu esteja exagerando, mas será que vale a pena pagar para ver? O preço está aí na mesa: seja de um lado o previsível autogolpe de Bolsonaro a ser justificado pela reação rancorosa da esquerda raivosa; seja de outro o retorno do fracassado regime lulopetista depois de todas mazelas da corrupção sistêmica e do desastre econômico que ocorreram nos últimos 14 anos!

Mas qual seria, então, a solução? A única saída possível parece quase uma utopia neste momento, mas ainda assim creio que factível. Com todo o respeito aos eleitores e apoiadores dos legítimos candidatos minoritários Alvaro Dias, João Amoêdo, Henrique Meirelles e Marina Silva, há uma pergunta que não quer calar.

Não deveríamos avaliar como um ato patriótico, neste momento de flagrante risco institucional, alinharmos um apoio condicional ao candidato Geraldo Alckmin, que, apesar de estagnado na faixa de 10% do eleitorado segundo as recentes pesquisas, parece ser o único que reúne condições de virar o jogo para a vitória dos moderados de centro no segundo turno?

Esqueçam as pequenas diferenças pessoais, partidárias ou até ideológicas. Tenham espírito aberto para fazer algumas concessões entre si. Os programas de governo entre esses candidatos têm apresentado mais convergências do que divergências, e um compromisso público de diretrizes básicas de consenso poderia ser acordado em torno de um único candidato reformista e centrista.

Resta saber se seria possível superar eventuais vaidades pessoais, ou mesmo algum ressentimento passado entre si, mas de forma pragmática esta parece ser a única alternativa que temos para se eliminar o risco do desastre dos extremos.

Assim, construiríamos uma página histórica da democracia brasileira --ou, senão, estaremos lançando o país na fogueira dos insensatos. A escolha está na atitude dos candidatos e nas mãos de seus respectivos eleitores. Boa sorte, Brasil!

Roberto Giannetti da Fonseca

Economista e empresário; ex-secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (2000-2002, governo FHC) e ex-coordenador da campanha de João Doria (PSDB) ao governo de São Paulo

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