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BC hesitante

Cortes de juros não constituem panaceia, mas podem atenuar a crise

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Prédio do Banco Central em São Paulo
Prédio do Banco Central em São Paulo - Rahel Patrasso/Xinhua

Numa quase repetição do discurso que tem mantido desde o final do ano passado, o Comitê de Política Monetária do Banco Central continua a resistir a cortes adicionais na taxa básica de juros.

Até houve uma mudança sutil na avaliação do BC na ata da última reunião, divulgada na terça-feira (14), que ao menos reconheceu a piora do quadro de atividade econômica. Seria surpreendente se não o fizesse, dado que as projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto vêm caindo continuamente.

Muitos analistas já trabalham com expansão próxima a 1% em 2019, semelhante ou menor que a do ano passado. A julgar pelos dados mais recentes divulgados pela autoridade monetária, que apontam queda de 0,68% na atividade no primeiro trimestre, o prognóstico nada tem de despropositado.

Afinal, os principais setores continuam estagnados, a criação de empregos prossegue de forma lenta e falta disposição para novos investimentos privados. 

Como se não bastasse a queda da confiança de famílias e empresas, que ainda buscam elevar sua poupança, o esgotamento das finanças públicas também obriga todos os níveis de governo a uma gestão austera, que tende a perdurar. 

A queda de arrecadação ameaça as metas orçamentárias e força contingenciamentos na esfera federal, enquanto estados e municípios quebrados cortam serviços e seguram correções salariais. 

Nesse quadro tenebroso, e sem prejuízo da necessidade urgente de reformas, o conservadorismo do BC nos juros, estáveis em 6,5% anuais desde março de 2018, tende a ser crescentemente questionado.

A justificativa do órgão para a inação é a incerteza quanto ao andamento das mudanças na Previdência Social —cujo eventual fracasso poderia desencadear uma escalada das cotações do dólar e, no limite, pressões inflacionárias, mesmo no contexto recessivo atual. 

Por outro lado, para o BC, a aprovação da reforma poderia reforçar a confiança, acelerar o crescimento e consolidar juros mais baixos. 

Ainda que o temor em relação ao pior cenário seja em tese consistente, vai parecendo excessiva a atenção da autoridade monetária a considerações sobre o cenário político, do qual não tem controle. 

A realidade é que a ociosidade na economia se mostra gigantesca. A taxa de desemprego está em 12,7%, e o PIB ainda está mais de 5% abaixo do observado no início de 2014, antes da recessão. 

Mesmo na perspectiva mais positiva, tal defasagem não seria eliminada antes de 2021, ou mesmo além. Cortes de juros não constituem panaceia, mas podem atenuar a crise. Com a inflação sob controle, não há obstáculo evidente fora dos conflitos brasilienses.

editoriais@grupofolha.com.br

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