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Sem margem de erro

Suscita preocupação a perspectiva de redução abrupta do orçamento de censo

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Recenseadores do IBGE, no centro paulistano, durante treinamento
Recenseadores do IBGE, no centro paulistano, durante treinamento - Marcelo Justo - 29.jul.10/Folhapress

Com exceção talvez de quem acredita em moto-perpétuo, nesta altura ninguém mais duvida de que o descalabro orçamentário federal exige cortes profundos de despesas. Nem o IBGE, nem qualquer outra repartição, escapará deles.

Admitir tal coisa não implica que todos os dispêndios sejam encurtados de maneira linear. Ao instituto de estatística cabe realizar em 2020 o censo demográfico nacional, cuja importância para embasar políticas públicas exige extrema cautela na aplicação de cortes.

Basta citar dois exemplos: o censo fornece a referência populacional para distribuir fundos de participação a estados e municípios e verbas para a educação básica.

Nada há de ordinário em contar 212 milhões de pessoas, visitar 70 milhões de lares e recrutar 250 mil trabalhadores temporários. Pelo gigantismo, o levantamento só ocorre uma vez por década; sua preparação consome anos de trabalho.

Registre-se que o censo de 2020 se acha em andamento desde 2016, com a organização de várias reuniões e seminários técnicos.

Suscita preocupação, assim, a perspectiva de redução abrupta do orçamento inicial de R$ 3,4 bilhões para algo mais próximo de R$ 2,5 bilhões. O debate sobre gastos vem se concentrando na redução de quesitos em cada visita, encurtando-a para permitir mais visitas por entrevistador.

O questionário do IBGE é, de fato, extenso. Na versão longa, aplicada em 10% das casas, comporta cerca de 150 formulações (nem todos os entrevistados respondem a todas as perguntas); na simplificada, uma dezena. São raros os países desenvolvidos em que o máximo ultrapassa 60 questões.

O Conselho Consultivo do Censo propôs cortar o questionário-base, mas a redução foi considerada insuficiente. O pesquisador Ricardo Paes de Barros, conceituado integrante do conselho, ficou encarregado de enxugá-lo mais.

Parece fazer sentido excluir perguntas sobre desemprego, por exemplo, contemplado já em instrumentos de coleta mais ágeis, assim como dados obtidos pela Pnad (pesquisa por amostragem). Seria lamentável, contudo, se séries históricas sem outra fonte disponível fossem interrompidas para satisfazer a meta de contenção.

A discussão tem de ser técnica, mas à vista de todos os especialistas —mesmo porque alguns deles calculam que mudar o questionário não produzirá a economia almejada em Brasília. Até adiar por alguns meses o censo, se necessário for, pode ser menos ruim do que gastar bilhões para realizá-lo com omissões insanáveis.

editoriais@grupofolha.com.br

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