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Paulo Feldmann

Emprego não cai do céu

Saída é capital externo e investimento em infraestrutura

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O professor de economia da USP Paulo Feldmann discursa no seminário "O Futuro do Emprego e o Emprego do Futuro" - Reinaldo Canato - 30.nov.18/Folhapress

Poucos países no mundo ostentam, neste momento, taxas de desemprego tão altas ou piores que as do Brasil. Alguns ou estão em guerra fratricida, como a Síria, ou vivem um caos político, como a Venezuela.

Felizmente, no Brasil, não estamos enfrentando nenhum problema do tipo, muito menos revoluções ou conflitos étnicos. No entanto, a taxa de desemprego não sai do patamar de 12% a 13% há quase quatro anos. Por que não estamos conseguindo diminuir o desemprego?

O governo Michel Temer (MDB) apostou tudo na reforma trabalhista, mas os empregos não apareceram depois dela. O mesmo deve acontecer agora com a reforma da Previdência. Esta é necessária: sozinha, porém, não será capaz de fazer com que as vagas retornem. 

Para nós, brasileiros, é importante saber como outros países combateram ou combatem esse flagelo. Isso por que há medidas tradicionais que têm sido adotadas com muito sucesso lá fora e que deveríamos tentar repetir por aqui. Afinal, não somos o primeiro país do mundo a registrar alto desemprego.

Talvez a mais importante dessas medidas seja a do investimento em infraestrutura. A construção de estradas, ferrovias, aeroportos e hidrelétricas promovem o aumento da competitividade dos países onde são executadas —e isso, por si só, já seria um fator de geração de empregos. Mas o efeito mais direto é a criação de empregos de baixa qualificação, quando da execução das obras. Por exemplo: para se construir uma ferrovia ou rodovia há a necessidade de milhares de trabalhadores sem muita qualificação. E estes são hoje, justamente, a grande maioria dos desempregados.

Por que então não se investe mais em infraestrutura? Evidentemente, por falta de recursos financeiros para bancar esses investimentos. Como o governo brasileiro está praticamente “quebrado”, com seu déficit fiscal superando R$ 100 bilhões neste ano, não há como desempenhar o papel de investidor. Se o fizesse, aumentaria ainda mais esse déficit. Os empresários brasileiros também estão com suas capacidades de investimento esgotadas.

Logo, se faz necessário atrair empresas de fora, que venham com o capital necessário para realizar investimentos e obras. Este modelo foi tentado no governo Dilma Rousseff PT). Só não funcionou por que as exigências feitas às empresas interessadas eram draconianas —a maioria desistiu de participar. Fundamental que se aprenda com aqueles erros para não cometê-los novamente. Mas o principal é que não se imponham restrições ao ganho das empresas, como foi feito da outra vez.

Aliás, nestes últimos anos o Brasil apreendeu muito, e a Lava Jato ajudou a desnudar como funcionam os cartéis de empreiteiras. Uma lição importante é que, se empreiteiras estrangeiras tivessem participado, principalmente das obras da Petrobras, a vida dos cartéis teria sido muito mais difícil, e os acertos de preços que encareceram substancialmente as obras provavelmente não teriam acontecido. Ou seja: há uma razão a mais para abrirmos os mercados de obras de infraestrutura para empreiteiras e capital estrangeiro.

Nunca é demais lembrar que a China foi o país que mais cresceu no mundo nos últimos 30 anos. Sua enorme transformação —de um país tão pobre quanto o Brasil, nos anos 80, para a segunda maior potência mundial— começou com os maciços investimentos que o governo chinês fez no final do século passado em obras de infraestrutura.

Com isso, gerou os empregos que possibilitaram iniciar a formação de uma classe média que hoje, em tamanho, é a maior do planeta. 

O Brasil não tem alternativas, pois, a perdurar as atuais taxas de desemprego, a crise social se escancara. Priorizar obras de infraestrutura é a saída inteligente para tornar o país mais competitivo e diminuir substancialmente o desemprego.

Paulo Feldmann

Professor de economia da USP e ex-presidente da Eletropaulo (1995-96, governo Covas), foi diretor e presidente no Brasil de multinacionais como Microsoft, Ernst & Young e Sharp

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