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Ricardo Patah

Sem diálogo, caminho é a greve

Não dá mais para conter a pressão dos trabalhadores

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O presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores), Ricardo Patah - Rubens Cavallari - 26.mar.19/Folhapress
Ricardo Patah

Não há outra saída. Infelizmente. Desde o começo do ano, procuramos diálogo com o governo Jair Bolsonaro (PSL). Nenhuma porta se abriu. Parece que nós, trabalhadores, somos inimigos.

O que não é verdade. Estamos todos no mesmo barco, numa viagem aparentemente suicida. Parece que apostamos em mais miséria, menos educação, mais desemprego, mais preconceito e mais violência. Esse é o Brasil que vemos pela frente, à deriva, sem um projeto nacional.

Precisamos reverter essa situação e acabar com “pequenas guerras” e “picuinhas” entre grupos, partidos e políticos. Queremos emprego, crescimento econômico, renda e serviços públicos de qualidade. A responsabilidade é de todos: governo, Congresso, empresários e trabalhadores. Queremos, com nossas propostas, ajudar a destravar a economia, como forma de tirar o trabalhador da miséria em que se encontra.

Sem diálogo sobre a reforma da Previdência, desemprego e outros problemas, só nos resta a greve, um instrumento constitucional legítimo. A UGT (União Geral dos Trabalhadores) foi protagonista, por exemplo, com seus principais sindicatos (ônibus, motos, trens, coletores de lixo e outros setores de transporte, como cargas próprias e pesadas) da paralisação do dia 28 de abril de 2017, quando o Brasil parou contra a reforma trabalhista.

Vamos repetir a dose, agora, nesta sexta-feira (14).

Não dá para continuar com 13, 2 milhões de desempregados, quase 5 milhões de desalentados (quando o trabalhador desiste de procurar emprego) e pelo menos 2 milhões de desocupados que procuram uma vaga há mais de dois anos, sem sucesso. Nem podemos imaginar quantos e quais dramas são vividos por essas pessoas e suas famílias. Não fazemos greve apenas por fazer, mas porque não estamos conseguindo conter a revolta dos trabalhadores frente à carestia em que vivem.

A reforma trabalhista, em vigor desde novembro de 2017, prometia criar 6 milhões de empregos. Pura fantasia. O que se viu foi a ampliação do trabalho informal e precarizado. Por trás das mudanças na CLT e da publicação da MP 873 está o estrangulamento do sindicalismo.

A Revolução 4.0 mal chegou no Brasil. Atinge apenas 2% do nosso parque fabril, segundo a CNI (Confederação Nacional das Indústrias). Ainda não mobiliza a sociedade. A UGT fez três mutirões de emprego, com a presença de milhares de desempregados do comércio e de serviços. Conseguimos preencher apenas 60% das vagas oferecidas (cerca de 11.800). O grande problema é a falta de qualificação profissional até para ocupar postos simples —como caixa de supermercados, com salários de R$ 1.200.

A UGT é a favor da reforma da Previdência. Mas não da proposta do governo federal. Defendemos um regime único, igualitário para todos os brasileiros. O valor do teto legal valeria para todo mundo. A partir daí, quem quiser uma aposentadoria acima do limite tem a alternativa de participar de um fundo complementar, por conta própria.

A crise está tão grave que os economistas estão discutindo se estamos em recessão ou depressão. Não há regras claras para definir o que é uma ou outra coisa. Mas uma velha piada diz que a primeira está em curso quando seu vizinho perde o emprego. E, a segunda, quando você é demitido.

Diante do tamanho da tragédia, nós, da UGT, ainda acreditamos que o melhor caminho é o diálogo. Na falta deste, vamos para a greve. Não dá mais para conter a pressão dos trabalhadores.

Ricardo Patah

Formado em direito e administração, é presidente nacional da UGT (União Geral dos Trabalhadores)

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