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Roque Pellizzaro Junior

Uma nova era no mercado de crédito no Brasil

Mudanças no cadastro positivo colocam o país às portas de novo momento

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Roque Pellizzaro Junior, presidente do SPC Brasil
Roque Pellizzaro Junior, presidente do SPC Brasil - Divulgação
Roque Pellizzaro Junior

Na década passada, o país assistiu a um formidável avanço do crédito para pessoas físicas e jurídicas. Medido como proporção do PIB, o saldo das operações de empréstimos e financiamentos passou de 26% para 53%, mais do que dobrando num intervalo de dez anos.

Algumas mudanças institucionais ocorridas ao longo daquela década foram decisivas para o resultado. A criação do crédito consignado, em 2003, talvez seja a mais lembrada. Hoje, essa modalidade de crédito representa algo como 36% do crédito total a pessoas físicas. Como é fácil intuir, mostra baixos índices de inadimplência e taxas de juros por isso mesmo menores.

Os anos da dura recessão interromperam a trajetória de crescimento do crédito. Enredado num drama fiscal anunciado já desde os tempos de bonança, o país viu, aliás, até mais do que isso: a atividade econômica caiu no biênio 2015-16; o desemprego atingiu 13 milhões de brasileiros; e a inadimplência —o crédito não honrado— atingiu mais de 63 milhões de consumidores, segundo estimativa do SPC Brasil.

Depois de um tempo à míngua, o crédito agora ensaia uma reação. As concessões crescem, no acumulado de 12 meses, desde o último trimestre de 2017, impulsionadas pela recuperação, ainda fraca, da atividade econômica.

No prazo de alguns meses, as concessões também serão impactadas pela aprovação de mudanças no cadastro positivo. Elas representam, para o mercado de crédito, um avanço institucional sem paralelo nos últimos anos e põem o país alinhado com as melhores práticas internacionais. Já era tempo.

Pelo novo modelo, todos os consumidores passarão a integrar automaticamente o cadastro positivo. Antes, quem quisesse, optava por entrar; agora, quem não quiser, opta por sair. Desde que foi criado, em 2013, cerca de 20 milhões de pessoas físicas e jurídicas aderiram ao cadastro, o que limitou os seus efeitos. Com as novas regras, já de partida, sua base contará com 150 milhões. E o que ganharão com isso?

Serão 150 milhões de consumidores e empresas avaliados, para fins de concessão de crédito, pelo histórico de pagamentos construído deste ano em diante —um incentivo, portanto, para as boas práticas de educação financeira.

Hoje, a avaliação somente leva em conta as informações das listas de devedores. Estima-se que cerca de 40% da população adulta esteja com o nome negativado. Destes, quantos tiveram um inadimplemento pontual? Quantos deixaram de quitar uma pendência por esquecimento? E quantos, de fato, já estão com a capacidade de solvência comprometida?

A análise baseada apenas na negativação é um bom preditivo de solvência, mas não responde tudo. A análise baseada nas informações positivas contará uma história mais completa. Em vez da foto, mostrará o filme, reduzindo a assimetria de informação, o risco de inadimplência e, por consequência, os juros aos consumidores. Com o cadastro, também será possível incluir um contingente de bons pagadores antes invisíveis ao sistema de crédito —um Brasil positivado que ninguém vê–, elevando o volume de concessões.

As mudanças no cadastro positivo colocam o país às portas de novo momento para o crédito. Prometem um impacto significativo sobre esse mercado, como ocorreu, há anos, com o avanço institucional que criou o consignado. As premissas, é claro, são aquelas de sempre: o país precisa, em paralelo, firmar um compromisso com o longo prazo e encarar as reformas que há muito posterga. E então teremos, finalmente, condições de civilizar nossa taxa de juros e democratizar o crédito, agora para valer.

Roque Pellizzaro Junior

Presidente do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e ex-presidente da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas)

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