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O amigo do norte

Em novo revés, EUA frustram Brasil e mantêm veto à compra de carne do país

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Funcionários trabalham em linha de frigorífico brasileiro - Pedro Ladeira/Folhapress
 

Desde a campanha eleitoral, Jair Bolsonaro (PSL) enaltecia o presidente Donald Trump como uma espécie de ídolo. Eleito, o brasileiro não perdeu oportunidade de expressar o que chama de alinhamento total de sua política externa aos desígnios do líder dos EUA.

Para quem criticava o Itamaraty dos anos petistas como um antro de ideologia infrutífera, é uma posição obviamente contraditória. Seria problema menor caso o Brasil auferisse vantagens de tal relação.

A recente decisão de Washington de manter o veto à carne bovina brasileira “in natura” exemplifica o velho ditado sobre a separação entre amizades e negócios. Para a frustração dos burocratas brasileiros, os EUA aproveitam problemas em tese solucionados para fazer seu protecionismo.

Para piorar, tais conversas são tocadas pelo lado mais eficaz da diplomacia comercial brasileira, liderada pelo Ministério da Agricultura da pragmática Tereza Cristina.

O veredito contrário foi resultado de uma inspeção do Departamento de Agricultura dos EUA, que pediu informações adicionais ao governo Bolsonaro e marcou nova avaliação mais à frente. Os norte-americanos suspenderam as compras de carne bovina “in natura” brasileira em meados de 2017, na esteira da Operação Carne Fraca

Em sua visita a Trump em março, Bolsonaro ganhou dois presentes que propagandeou à exaustão: a promessa de apoio à entrada brasileira na OCDE, clube de elite com 36 países, e a concessão de status de aliado prioritário fora da Otan (aliança militar ocidental).

O primeiro item caiu no vazio com a postergação do apoio de entrada imediata, que os EUA deram à Argentina então capitaneada pelo aliado Mauricio Macri.

Já o Brasil havia cedido voluntariamente um aumento de cota de etanol que importa dos EUA com isenção de tarifa, para alegria de produtores americanos.

Na questão da aliança extra-Otan, espera-se um incremento no comércio militar entre os países.
Isso é por ora especulativo, mas pelo menos não inclui as perigosas conversas acerca de eventuais aventuras golpistas na Venezuela ou a mudança no posicionamento da política nuclear brasileira, que estiveram no radar americano.

A suposta proximidade entre os presidentes, que foi justificativa central no malfadado episódio em que o filho Eduardo Bolsonaro quase virou embaixador nos EUA, parece ser uma via de mão única.

​editoriais@grupofolha.com.br

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