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Basilio Jafet

Distribuir lucros reduz a desigualdade? NÃO

Melhor saída ainda é gerar renda com oferta de empregos

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Tradicionalmente, a principal finalidade das empresas é produzir, vender e distribuir lucro aos seus acionistas. O conceito mais moderno amplia esse objetivo: satisfazer seus acionistas e também seus “stakeholders” (fornecedores, clientes e o meio ambiente onde atuam).

As empresas têm por missão (e desafio) a lucratividade. É a perspectiva dela que justifica a decisão de correr riscos, investir, adquirir maquinário, contratar mão de obra etc. É o lucro que move qualquer negócio. Negócios que geram riquezas, impostos, salários, crescimento econômico, incremento do PIB. Se as empresas tivessem a obrigatoriedade de usar o lucro como saída para a redistribuição de renda, como ficaria sua razão de ser? Quem se animaria a investir e a criar empregos?

O presidente do Secovi-SP, Basilio Jafet - Mathilde Missioneiro - 17.set.19/Folhapress,

As estatais soviéticas tinham políticas de distribuição de lucro e renda, mas não se viu redução da miséria por conta disso. E mesmo que, no Brasil, se pensasse em pegar apenas uma parcela do lucro auferido, será que as taxas de retorno resultantes trariam investidores para o mercado?

Para nós, empreendedores, o melhor caminho não é distribuir, mas gerar renda. Ou seja, ofertar empregos. Cabe ao governo desenvolver políticas públicas assistenciais, utilizando os recursos que arrecada (e não são poucos, haja vista nossa absurda carga tributária) para o atendimento aos mais vulneráveis.

O Brasil possui inaceitável número de cidadãos em situação de miséria. Programas como Bolsa Família são fundamentais. Mas, se o cidadão puder escolher entre eles e um emprego formal, por certo ficará com este.

E emprego é resultado direto da atividade empresarial que reinveste seu lucro, quando acontece, para ampliar seu negócio. O empreendedor nato não guarda dinheiro debaixo do colchão (ou nas Ilhas Cayman). É claro que se resguarda, escaldado que está com uma sucessão de reveses na economia. Mas, em essência, seu grande negócio é fazer negócios.

A cadeia da indústria da construção civil, por exemplo, gera vários empregos indiretos para cada emprego direto. Movimenta diversas indústrias (cimento, vidro, aço, cerâmica) e, na produção de habitações, também dinamiza fabricantes de móveis, eletrodomésticos, tapetes, cortinas etc. Sem falar em engenheiros, arquitetos, advogados, publicitários...

Após anos de baixíssima atividade, essa indústria começa a reagir, puxada pelo setor imobiliário. A queda dos juros e a perspectiva positiva da economia trouxeram de volta os compradores. Hoje, a construção gera 1 em cada 6 novos empregos no Brasil. Será que mexer no lucro das empresas é a melhor opção?

O que resolve a renda do brasileiro é o emprego digno. Emprego que deve vir aliado à educação e à capacitação da mão de obra. Educação que deve ser a prioridade maior de qualquer governo, pois, sem ela, não há como obter produtividade e competitividade. Uma educação de qualidade iguala as oportunidades de desenvolvimento pessoal.

Esse tão impopular lucro (que nada mais é do que a remuneração do trabalho do empreendedor) resulta em abençoados benefícios sociais. A moradia, o saneamento e até mesmo a formação profissional por meio de programas bancados pelas próprias empresas.

É claro que há vilões em todos os setores. Mas a maioria dos empreendedores usa o lucro para que milhões passem a tê-los como heróis —o que, pelos desafios que enfrentam, eles de fato são.

Basilio Jafet

Presidente do Secovi-SP (sindicato do setor de habitação)

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