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Cristina Helena Pinto de Mello

O valor econômico da informação

Ataques do presidente à Folha afetam o mercado

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Em junho de 1961, o economista George Stigler publicou um artigo chamando a atenção para o valor econômico da informação. Os economistas de então supunham que a melhor tecnologia seria conhecida por todos, que a relação entre mercadorias e consumidores era um dado e que as indústrias de produção de informação e propaganda eram tratadas com hostilidade. Muito embora este artigo seminal tenha aberto portas para o que hoje denominamos economia da informação, parece que nada aprendemos.

O campo de pesquisa e conhecimento denominado economia da informação tem como objeto o estudo das ineficiências de mercado que podem ser causadas por assimetrias de informação. A ausência de informação em tempo adequado impede consumidores de avaliar e precificar corretamente suas preferências, dificulta o exercício saudável da concorrência e facilita sonegação e especulação de forma a diminuir o bem-estar social.

O presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília - Pedro Ladeira - 25.nov.19/Folhapress

Há, portanto, duas formas de intervenção governamental capazes de causar ineficiências econômicas relevantes. Uma, bastante conhecida, caracterizada por elevados gastos governamentais, pesada carga tributária, excesso de regulamentação e empréstimos discricionários. Entretanto, a manipulação da informação constitui intervenção relevante, inadequada e não menos danosa do que a primeira.

Posta essa análise, convém ponderar que a recente manifestação do presidente da República ameaçando explicitamente esta Folha, veículo jornalístico de importância nacional, constitui atentado à liberdade econômica, tanto quanto um atentado à liberdade de expressão.

A palavra República remete a uma responsabilidade com a população em geral. Espera-se de um chefe de Estado que governe para todos e não manifeste preferências, exceção feita a manifestação de preferências referentes a políticas e valores. 

Mas, para além do fato de uma manifestação inadmissível para um chefe de Estado, o aludido boicote ao veículo e seus anunciantes constitui estímulo que altera as preferências do consumidor e decisões alocativas. 

Se considerarmos decisões e escolhas racionais, podemos esperar uma previsão de queda nas vendas das marcas ameaçadas e uma mudança de precificação de suas ações, se forem empresas de capital aberto, afetando também seus acionistas.

As constantes declarações criam instabilidades macroeconômicas e de mercados e contradizem o discurso liberal da campanha eleitoral à Presidência da República.

Cabe à sociedade a defesa dos veículos e produtores de informação. São instituições que buscam a melhor forma de manifestação da verdade e divulgadores de informação que ampliam e melhoram o funcionamento do mercado.

Cristina Helena Pinto de Mello

Economista e pró-reitora nacional de pesquisa da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing)

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