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Ciência no gelo

Com reabertura de base na Antártica, é preciso garantir verbas para pesquisas

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Vista aérea do complexo da Estação Antártica Comandante Ferraz - Marinha do Brasil

O astronauta Marcos Pontes, ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, excedeu-se na mania usual no Planalto de atribuir-se mérito pelas realizações alheias ao comemorar como obra sua a nova Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF).

Em realidade, ao governo Jair Bolsonaro coube apenas inaugurar a base futurista erguida na enseada Martel. Nesse mesmo local da península Antártica, a quase 3.000 km do polo Sul, ocorreu o trágico incêndio de 2012 que destruiu as instalações de pesquisa e vitimou dois militares da Marinha.

Ainda na administração Dilma Rousseff (PT), o governo federal iniciou o processo para construir o prédio substituto. A obra orçada em US$ 100 milhões (R$ 415 milhões) teria início apenas em dezembro de 2016, já no governo de Michel Temer (MDB). 

O edifício da base tem estrutura de aço e dois blocos conectados, conta com 17 laboratórios e pode abrigar até 65 pessoas, entre pesquisadores e militares.

A nova EACF deveria ter ficado pronta ao menos um ano antes, mas a construção enfrentou atrasos impostos pelo clima inclemente, que só permite atividades externas por quatro meses a cada ano, no verão austral. Não fosse isso, a abertura teria acontecido antes da guinada que lançou Bolsonaro ao Planalto e Pontes à Esplanada.

Começa agora o grande teste quanto a ser verdadeira a prioridade do atual governo à pesquisa continuada no continente. Será de pouca valia contar com um palácio na neve se as verbas para estudos na área ficarem no refrigerador.

Em 2018 houve um edital de R$ 18 milhões para 17 projetos ao longo de quatro anos. O congelamento a ameaçar R$ 6 milhões em bolsas para formação de quadros, contudo, pode afetar a continuidade dos estudos, entre os quais se destacam alguns sobre a influência do gelo antártico no clima brasileiro.

Os mares da Terra absorvem a maior parte do calor adicionado pelo homem à atmosfera com o aquecimento global. Entre todos os oceanos, os que mais esquentaram desde os anos 1950 são o Atlântico, alimentando furacões, e o Ártico, ameaçando a cobertura de gelo sobre a Groenlândia.

Por impopular que se apresente o tema nos gabinetes de Brasília, seria imprudente Bolsonaro desidratar recursos para pesquisas que ajudam a prever impactos da emergência climática no agronegócio e na economia do país.

editoriais@grupofolha.com.br

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