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Antártida, 20 graus

Temperatura recorde expõe atraso em providências contra aquecimento global

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Pinguins na Antártida - Johan Ordonez - 27.nov.19/AFP

O continente gelado já não é mais o mesmo. Em 9 de fevereiro, um grupo de cientistas brasileiros da Universidade Federal de Viçosa registrou amenos 20,75°C na Antártida, novo recorde de calor na região.

A medição, realizada na Ilha Marambio, ocorreu dias depois de outra marca extrema. Perto dali, na base argentina Esperanza, aferiu-se a maior temperatura continental jamais registrada, de 18,3°C.

Com relação ao dado brasileiro, no entanto, cabe uma pequena ressalva. Como o objeto de estudo dos pesquisadores é o solo congelado, conhecido como permafrost, a coleta se deu a uma distância menor que o convencional, impedindo que seja oficializada pela Organização Meteorológica Mundial.

Tais picos climáticos se deram num contexto também anormal. Essa área da Antártida costuma apresentar, em fevereiro, temperatura média de 0,5°C, mas, neste ano, o registro tem sido de 3,9°C.

Embora possa espantar os mais leigos, o fenômeno não chega a surpreender cientistas que estudam o clima polar. Tal cenário se mostra compatível com as previsões feitas a partir de modelos matemáticos para essa região da Antártida, hoje a que mais esquenta no globo terrestre depois do Ártico.

As temperaturas ali são quase 3°C mais altas do que na era pré-industrial —para comparação, o planeta como um todo encontra-se 1°C mais quente desde então. Esse aquecimento em curso é alimentado, sobretudo, pela emissão de gases resultantes da queima de combustíveis fósseis.

Para a espécie humana, as consequências mais graves do acaloramento antártico residem no derretimento de suas geleiras, que guardam cerca de 70% da água doce da Terra, e o consequente aumento do nível do mar. Estima-se que os oceanos devam se elevar de 30 cm a 110 cm até o fim do século, ameaçando inundar um sem número de cidades costeiras.

Mais chocante que os recordes de temperatura na Antártida, porém, é a incapacidade da comunidade internacional de dar uma resposta à altura da emergência climática, como se viu no fiasco da última conferência do clima, realizada ao final de 2019 em Madri.

As emissões de carbono seguem crescendo, e projeções indicam que muitos países, inclusive o Brasil, não cumprirão as metas de redução assumidas no Acordo de Paris —omissão que vai tornando cada vez mais elevada a fatura a ser paga pelas próximas gerações.

editoriais@grupofolha.com.br

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