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O custo da pandemia

Relevante, debate sobre impacto social do isolamento foi aviltado por Bolsonaro

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Rua 25 de Março, em São Paulo, deserta numa manhã de segunda-feira - Eduardo Knapp/Folhapress

Na emergência do combate ao novo coronavírus, o foco primordial de qualquer governo razoável é a preservação de vidas. Com a rápida disseminação da epidemia, há grande risco de esgotamento dos sistemas de saúde e consequente aumento da letalidade.

Estratégias como o distanciamento social se mostram necessárias para reduzir o contágio e evitar a superlotação de hospitais e UTIs. Daí as medidas de restrição à circulação de pessoas adotadas por todos os países, em graus variados.

Onde o crescimento da epidemia se mostrou crítico, como em parte da China, de início, na Itália e em outros países da Europa, as medidas tornaram-se cada vez mais draconianas, chegando à parada quase completa da atividade econômica e a quarentenas generalizadas.

Outros países conseguiram enfrentar a Covid-19 com contenções mais brandas, desde que adotadas em tempo adequado. Coreia do Sul, Japão e Singapura tiveram sucesso, até aqui, com a estratégia de testagem em massa para a presença do vírus. Conseguiram, assim, adotar restrições direcionadas, com menor impacto na economia.

Conforme vão se acumulando globalmente os sacrifícios, intensifica-se o debate em torno dos custos da paralisia geral da produção e do comércio. Por algumas semanas, governos podem bancar parte dos prejuízos, ao transferir renda para empresas e trabalhadores.

Quanto mais longos forem os confinamentos, porém, o preço a pagar tende a tornar-se excessivo —não somente para os cofres públicos mas sobretudo para a população, que enfrentará de privações materiais a distúrbios psicológicos.

Os Estados nacionais podem e devem endividar-se agora para aplacar os impactos de recessões, mas cumpre lembrar que toda a sociedade terá de arcar com o doloroso ajuste orçamentário posterior. Os estratos mais carentes já sofrem mais em moradias precárias, sob condições sanitárias insalubres.

Trata-se de discussão complexa e necessária —infelizmente aviltada no Brasil pela fanfarronice tresloucada do presidente Jair Bolsonaro.

O momento demanda precaução máxima diante de um vírus ainda pouco conhecido, para o qual não existe vacina nem tratamento consolidado. É temerário afrouxar as restrições, como já começam a fazer alguns estados, sem que se saiba como proteger as pessoas, em particular as que se encontram em maior situação de risco.

Esse plano de saída, que no estado de São Paulo formalmente começaria após 7 de abril, precisa ser mais bem detalhado, aproveitando a experiência internacional.

A coordenação de autoridades e estudiosos é fundamental para que se minimizem sacrifícios. A preocupação legítima com emprego e renda não pode ter como consequência a disparada da epidemia.

editoriais@grupofolha.com.br

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