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Adiar o Enem

Com aulas presenciais interrompidas, aluno da rede pública tem desvantagem maior

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Saída dos candidatos ao Enem 2019 da unidade da Uninove da Barra Funda - Rubens Cavallari - 3.nov.19/Folhapress

A esta altura, com a epidemia de Covid-19 ainda grassando pelo país, parece inevitável que a suspensão das aulas presenciais, prestes a completar um mês e sem data para terminar, tenha impacto significativo sobre o calendário escolar.

Nesse sentido, merece especial consideração o Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, hoje o principal meio de acesso às universidades federais. Não à toa, entidades como o Conselho Nacional dos Secretários de Educação e a Defensoria Pública da União, vêm advogando pelo adiamento do teste.

Trata-se, com efeito, de proposta que deveria ser acatada pelo Ministério da Educação. Afinal, a crise tende a afetar desproporcionalmente os estudantes mais pobres, bem como aumentar o fosso que separa as redes privada e pública (onde estudam mais de 80% dos alunos de ensino médio do país).

Enquanto estudantes do primeiro grupo seguem, bem ou mal, tendo aulas por meios virtuais, mantendo assim algum tipo de rotina escolar, os do segundo têm permanecido, na imensa maioria, sem instrução ou acompanhamento.

Isso se deve não apenas à precariedade geral dos colégios públicos, que os impede de prover esse tipo de acesso remoto. Uma parcela grande de famílias não dispõe de aparelhos eletrônicos que permitam aos mais jovens acessar o conteúdo didático a distância.

Ademais, cerca de um terço dos brasileiros nem mesmo possui acesso à internet, caso também de 43% das escolas rurais do país.

A despeito do evidente prejuízo a uma legião de estudantes, e consequente aumento da desigualdade entre os candidatos, o MEC tem-se mantido irredutível no propósito de não alterar as datas do exame.

As manifestações do ministro Abraham Weintraub, atribuindo os pedidos de adiamento a partidos de esquerda e afirmando que o coronavírus “atrapalha todo mundo”, revelam, mais uma vez, a obsessão pelo confronto ideológico acima da política pública.

Não é de hoje que Weintraub coleciona conflitos e desacertos na condução do Enem. No ano passado, viram-se desde a contratação de uma gráfica sem licitação até o patrulhamento do conteúdo da prova, que chamou a atenção por omitir questões relativas à ditadura militar, e um desfecho tumultuado por erros de correção.

O ministro ainda dispõe de tempo para se render à realidade, adiar o exame deste 2020 e evitar mais um erro de sua ruinosa gestão.

editoriais@grupofolha.com.br

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