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PM brutal

Agressão a mulher negra em SP é sintoma do estímulo político ao abuso policial

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Raio-X da comerciante agredida por um policial, que teve a tíbia quebrada e precisará de cirurgia
Raio-X da comerciante agredida por um policial, que teve a tíbia quebrada e precisará de cirurgia - Arquivo pessoal

A mais recente demonstração de brutalidade da Polícia Militar paulista a vir a público foi tida como inaceitável pelas autoridades. Trata-se de precário consolo, porém, dado que nem de longe estamos diante de um fato isolado.

Revelado pela Rede Globo, o caso aconteceu em 30 de maio na região de Parelheiros, zona sul da cidade de São Paulo. Imagens feitas com aparelho celular mostram um policial pisando no pescoço de uma comerciante negra de 51 anos.

A mulher afirmou que estava dentro de seu bar quando viu um frequentador ser agredido do lado de fora por um PM. Ao tentar interceder pelo cliente, relatou, levou uma rasteira. No chão, veio o pior. “Quanto mais eu me debatia, mais ele apertava a botina no meu pescoço”, disse a comerciante, arrastada e algemada em seguida.

De acordo com os policiais, a mulher tentara atacá-los com uma barra de ferro. A Secretaria da Segurança Pública declarou que os profissionais envolvidos estão afastados e que um inquérito foi instaurado.

As cenas exibidas pelo vídeo inevitavelmente remetem ao que ocorreu nos EUA com o negro George Floyd —morto por asfixia depois que um policial se manteve ajoelhado sobre seu pescoço— e provocou uma onda de protestos.

Lá como aqui, a cor da vítima é determinante para o grau de truculência das forças de segurança. Tal viés torna ainda mais perversa a escalada da letalidade policial observada neste ano, em plena pandemia de Covid-19, nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro.

De janeiro a maio, 442 pessoas morreram em confrontos com a polícia paulista, alta de 26% ante os primeiros cinco meses de 2019 (350 vítimas) e maior número da série histórica iniciada em 2001. As cifras fluminenses são ainda piores —741 vítimas no período, o maior número em 22 anos, segundo levantamentos do portal G1.

A aceitação, quando não apologia, da violência policial foi marcante nas eleições de 2018. A ascensão de Jair Bolsonaro constitui o exemplo mais vistoso dessa tendência, mas não o único. Os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e, mais ainda, do Rio, Wilson Witzel (PSC) surfaram nessa onda.

Doria repudiou a ação contra a comerciante negra e disse que alguns policiais “não honram a qualidade da PM” do estado. Há muito mais a fazer, infelizmente, para que se revertam os amplos estímulos políticos ao abuso e à impunidade das forças do Estado.

editoriais@grupofolha.com.br

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