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Sandro J. de Souza e Eduardo Emrich Soares

A pandemia e o gargalo da biotecnologia no Brasil

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Sandro J. de Souza

Professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Eduardo Emrich Soares

Presidente da Biominas Brasil

A pandemia de Covid-19 tem mostrado a importância de uma infraestrutura estabelecida de C&T (ciência e tecnologia) no país, salientando não só a necessidade de cientistas habilitados, mas também de um ambiente dinâmico de transferência de tecnologias das universidades para o setor empresarial.

Embora tenhamos tido nos últimos meses vários casos de sucesso como, por exemplo, o sequenciamento do genoma do Sars-CoV-2 em pacientes brasileiros, a pandemia também mostrou carências críticas que afligem o cenário de C&T no país há décadas.

Uma delas refere-se à aquisição de insumos biotecnológicos no país. Embora atraiam mais atenção as notícias sobre a falta de insumos médicos básicos, como luvas e máscaras, há também o mercado de insumos para pesquisas básicas e aplicadas. Por exemplo, esta Folha noticiou que o Ministério da Saúde tem quase 10 milhões de testes para Covid-19 parados por falta de insumos para as reações de PCR, principal tecnologia usada nos testes de diagnóstico.

Quase todos esses insumos são importados e isso traz duas constatações importantes. A primeira é a dificuldade de se importar insumos para pesquisa, apesar dos inúmeros programas governamentais estabelecidos com o objetivo de facilitar esse processo. Pergunte a qualquer cientista brasileiro e terá uma aula sobre a burocracia das importações de insumos. Mesmo em um momento crítico no país com milhões de vidas em risco, não conseguimos nos livrar da nossa vocação burocrática.

O outro ponto a ser considerado, e o mais crítico, é a falta de uma indústria local capaz de abastecer o mercado nacional. Embora tenhamos tido ao longo dos anos vários projetos e startups com tal finalidade, as mesmas não encontraram no país as condições para crescerem e se estabelecerem de forma definitiva. Hoje, elas fazem falta. Vale destacar que a tecnologia para a produção desses insumos é completamente dominada em universidades e centros de pesquisas brasileiros. Como mudamos isso? A resposta é certamente complexa, mas o problema precisa ser encarado de forma honesta e objetiva (e, principalmente, sem qualquer viés ideológico).

O Brasil parece ser o país do copo meio cheio, meio vazio. Temos um enorme potencial e um custo Brasil em quase tudo. Parece que temos o mais difícil, mas erramos nos mecanismos para que esse potencial vire realidade. O cenário de biotecnologia não é diferente. Temos muitas ilhas de excelência em diferentes setores da bioeconomia, mas nos faltam os mecanismos e a cultura para darmos aquele último passo e nos transformarmos no país inovador que sonhamos.

TENDÊNCIAS / DEBATES
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