Descrição de chapéu

Projeto de ditador

Mesmo reprimido pelo aparato da democracia, Bolsonaro dá roncos de perseguição à imprensa

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O presidente Jair Bolsonaro - Pedro Ladeira/Folhapress

Perto de completar a metade de seu mandato, o presidente Jair Bolsonaro, depois de muitas derrotas, acostumou-se aos limites que a mecânica institucional impõe aos ocupantes do Palácio do Planalto. Acostumou-se, mas não se pode dizer que tenha aprendido.

Vez ou outra o projeto de ditador adormecido que habita o espírito presidencial volta à tona, ainda que com menos estrépito, às vezes por interpostas pessoas.

Nos últimos dias, a criatura rosnou no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão que existe para zelar pela concorrência entre empresas, e sua vítima foi o Grupo Globo, considerado pelo presidente inimigo perene a ser destruído.

A pretexto de investigar negócios corriqueiros e legais no mercado publicitário, sem que se saiba o indício concreto de irregularidade, a autoridade bloqueou apenas ao grupo a faculdade de bonificar agências que carreiem mais clientes para o veículo.

Seus concorrentes podem seguir com a prática, que é disseminada no meio publicitário e inclusive regulada por lei. O ato de ofício foi do superintendente-geral, ligado a caciques do PP, o partido que sonha em filiar o presidente e que serve de base para o Centrão ora bolsonarista no Congresso.

De resto, a ação está em linha com promessa feita por Bolsonaro ou seus asseclas já na campanha, depois reforçada em entrevista a esta Folha no ano passado. Então, ele havia dito que editaria uma medida provisória cujo alvo seria a Globo.

"Pelo menos por cinco meses por ano [na verdade o prazo de validade de uma MP é de 120 dias se não for votada pelo Congresso] teremos democracia na distribuição de verbas publicitárias no Brasil", disse.

O caminho da medida provisória foi descartado aqui, mas escolhido para outra obsessão do mandatário: acabar com a obrigação legal de empresas de sociedade anônima de publicar balanços em jornais impressos.

Medida provisória neste sentido já fora expedida antes e a sabedoria do Congresso a deixou caducar. Segundo revelou seu anspeçada nas Comunicações, Fabio Wajngarten, em "entrevista" a Eduardo, o filho deputado federal do presidente, a ideia é reeditá-la –o que fere o bom senso, mas isso não parece incomodar a turma.

Seu objetivo é uma tentativa escancarada de atingir veículos que, ao praticar jornalismo profissional, publicam reportagens críticas ao governo federal –o mais prejudicado seria de longe o jornal Valor Econômico, do mesmo grupo fluminense.

Mesmo reprimido pelo aparato da democracia, Bolsonaro dá seus roncos persecutórios contra a imprensa. Se o nível de vigilância for o mesmo, vai fracassar de novo.

editoriais@grupofolha.com.br

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