2021: mais do mesmo

Caminhamos para um cenário mais dramático no que concerne às desigualdades

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Chegamos ao final de 2020 com quase 200 mil mortos vítimas da Covid-19. As festividades com aglomeração para celebrar a chegada do novo ano contribuíram para nos deixar ainda mais presos às dramáticas estatísticas do ano que terminou.

Especialistas afirmam que, desde novembro, vivemos uma segunda onda da pandemia, e o Brasil está longe de ter um plano sólido de vacinação. O presidente do país continua protagonizando cenas de aglomeração e descaso, deixando-nos cada vez mais isolados no cenário internacional de enfrentamento dessa crise. Nada de novo.

Se há alguma novidade em 2021 é que caminhamos para um cenário mais dramático no que concerne às desigualdades. Com o fim do orçamento de guerra e do estado de calamidade pública, o ano que se inicia contará com menos recursos públicos, produzindo um enorme impacto social.

Algo que merece atenção especial é o fim do auxílio emergencial. Cerca de 68 milhões de pessoas receberam o auxílio, sendo que 54% deles não estavam no Cadastro Único.

Estudos da Rede de Pesquisa Solidária (USP-Cebrap) apontaram que a queda da renda do trabalho levou a uma redução de R$ 250 na renda média das famílias brasileiras. Suas análises demonstraram que, sem esse auxílio, essa queda teria sido 40% maior, elevando a taxa de pobreza para 30% da população.

Já a pesquisa do Datatolha feita entre 8 e 12 de dezembro de 2020 apontou que o auxílio emergencial é a única renda dos 36% que receberam o benefício. Também não é novidade quem serão os mais afetados pelo seu fim: a população negra e periférica --especialmente as mulheres negras--, que compõe a maioria dos 14 milhões de desempregados.

O debate sobre políticas públicas para enfrentar as desigualdades precisa ser retomado com urgência. Do contrário, o colapso social será inevitável.

Márcia Lima é professora do Departamento de Sociologia da USP e coordenadora do Núcleo Afro-Cebrap.

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