Diferenças de opinião em colegiados responsáveis por definir as taxas de juros são normais em bancos centrais que disponham de autonomia, inclusive no brasileiro.
No entanto a divisão de quarta (8) no Comitê de Política Monetária do BC, que decidiu por 5 votos a 4 pela redução da taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,5% ao ano, traz dúvidas sobre motivações de diretores e riscos para a credibilidade da política monetária.
Os quatro que votaram pelo corte maior, de 0,5 ponto, são justamente os indicados pelo atual governo —grupo que inclui Gabriel Galípolo, o mais cotado para suceder o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, cujo mandato vence no final do ano.
É fato, goste-se ou não, que há uma incerteza elevada em relação à conduta a ser adotada pelo Copom a partir de 2025, quando os indicados pela administração petista serão maioria.
Dado o pendor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a criticar irresponsavelmente o BC, os juros e até o regime de metas de inflação, o temor de permeabilidade a ingerência política é fundado e agora reforçado, embora seja conveniente aguardar a ata da reunião para entender as bases da divergência.
Há razões que justificam a cautela. Nas últimas semanas piorou o cenário internacional, dada a alta pressão inflacionária nos EUA, que aumentou as taxas no principal centro financeiro do mundo.
A robustez da atividade econômica no Brasil, com boa geração de emprego e renda, tem mantido as pressões na inflação de serviços, que permanece acima do que seria compatível com a plena convergência do IPCA para a meta de 3% ao ano.
A deterioração da gestão fiscal, com afrouxamento das metas para as contas do Tesouro Nacional em 2025 e 2026, além disso, é outro fator destacado pelo Copom para o maior conservadorismo.
Por fim, as expectativas de inflação para os próximos dois anos vêm subindo, o que limita o espaço para cortes mais significativos.
Por essas razões, nas últimas semanas alguns dirigentes do BC, inclusive Campos Neto, já sinalizavam que o corte da Selic poderia ser menor que o antes indicado.
Um corte maior não teria sido uma afronta técnica, dadas as incertezas em torno das variáveis, a comunicação anterior e o difícil ajuste fino inerente ao processo.
A estranheza advém da mudança de tom no anúncio da decisão, que sugere ter sido desfeito um alinhamento que prevalecia até então.
A falta dessa convergência, no momento atual e com divisão tão clara entre os indicados pelo governo anterior e o atual, torna mais nebuloso o cenário futuro da política monetária. Todos perderam.
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