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Divisão eleva temores sobre o futuro do BC

Divergência entre indicados do governo atual e do anterior reforça dúvida sobre política monetária ante pressões de Lula

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O presidente do Banco Central e os diretores da instituição em pé na sala em que está o quadro Descobrimento do Brasil, de Candido Portinari
Roberto Campos Neto (ao centro), presidente do Banco Central, e os diretores membros do Copom - Raphael Ribeiro - 30.jan.24/BCB

Diferenças de opinião em colegiados responsáveis por definir as taxas de juros são normais em bancos centrais que disponham de autonomia, inclusive no brasileiro.

No entanto a divisão de quarta (8) no Comitê de Política Monetária do BC, que decidiu por 5 votos a 4 pela redução da taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,5% ao ano, traz dúvidas sobre motivações de diretores e riscos para a credibilidade da política monetária.

Os quatro que votaram pelo corte maior, de 0,5 ponto, são justamente os indicados pelo atual governo —grupo que inclui Gabriel Galípolo, o mais cotado para suceder o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, cujo mandato vence no final do ano.

É fato, goste-se ou não, que há uma incerteza elevada em relação à conduta a ser adotada pelo Copom a partir de 2025, quando os indicados pela administração petista serão maioria.

Dado o pendor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a criticar irresponsavelmente o BC, os juros e até o regime de metas de inflação, o temor de permeabilidade a ingerência política é fundado e agora reforçado, embora seja conveniente aguardar a ata da reunião para entender as bases da divergência.

Há razões que justificam a cautela. Nas últimas semanas piorou o cenário internacional, dada a alta pressão inflacionária nos EUA, que aumentou as taxas no principal centro financeiro do mundo.

A robustez da atividade econômica no Brasil, com boa geração de emprego e renda, tem mantido as pressões na inflação de serviços, que permanece acima do que seria compatível com a plena convergência do IPCA para a meta de 3% ao ano.

A deterioração da gestão fiscal, com afrouxamento das metas para as contas do Tesouro Nacional em 2025 e 2026, além disso, é outro fator destacado pelo Copom para o maior conservadorismo.

Por fim, as expectativas de inflação para os próximos dois anos vêm subindo, o que limita o espaço para cortes mais significativos.

Por essas razões, nas últimas semanas alguns dirigentes do BC, inclusive Campos Neto, já sinalizavam que o corte da Selic poderia ser menor que o antes indicado.

Um corte maior não teria sido uma afronta técnica, dadas as incertezas em torno das variáveis, a comunicação anterior e o difícil ajuste fino inerente ao processo.

A estranheza advém da mudança de tom no anúncio da decisão, que sugere ter sido desfeito um alinhamento que prevalecia até então.

A falta dessa convergência, no momento atual e com divisão tão clara entre os indicados pelo governo anterior e o atual, torna mais nebuloso o cenário futuro da política monetária. Todos perderam.

editoriais@grupofolha.com.br

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