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A pior inflação

Alta dos preços em 2020 prejudicou os mais pobres; há novos riscos neste ano

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Arroz vendido com preços em alta em supermercado - Elaine Granconato/Folhapress

Toda inflação elevada é ruim, mas alguns processos de carestia se mostram mais danosos que outros quando prejudicam desproporcionalmente os mais pobres. Foi o que ocorreu no Brasil no ano passado com a disparada de preços de alimentos que pesam mais na cesta das famílias de baixa renda.

Os diferentes índices apurados pela Fundação Getulio Vargas mostram essa dinâmica. A medição que captura a variação para famílias com renda até 33 salários mínimos (R$ 34.485 mensais até dezembro) subiu 5,13% em 2020, ao passo que a leitura com corte de renda de 2,5 mínimos (R$ 2.612,50) mostrou alta de 6,3%.

O principal motivo para a diferença é o peso dos alimentos na cesta de consumo —19,8% no primeiro grupo e 24,3% no segundo. Num ano em que foram justamente os preços desses produtos os que mais subiram, há uma penalização maior para a baixa renda.

O encarecimento da comida, de 15,4% no corte de renda mais baixa, seguiu uma combinação de fatores. Nos itens que acompanham mais de perto a variação da taxa de câmbio, caso dos grãos e parte da cadeia de proteínas, a forte desvalorização do real teve consequências mais palpáveis.

Como vários desses preços também tiveram elevação em dólares, resultado do aumento da demanda internacional, sobretudo chinesa, o impacto foi duplo. A situação não é comum, já que movimentos altistas nas matérias-primas que o Brasil exporta, como soja e carne, em geral tendem a estar associados à valorização da moeda nacional, o que não ocorreu desta vez.

Em parte, a culpa é do governo, que alimentou desconfianças na gestão econômica e favoreceu a saída de divisas do país, pressionando a cotação da moeda. Houve ainda perdas de safra, casos do arroz e do feijão, cujos preços subiram 73% e 57%, respectivamente.

A tendência agora parece ser de certa acomodação nos itens da cesta de alimentação. Mas a perda para os pobres poderá vir de outras origens neste ano, como aumentos em tarifas de transporte e energia, represadas na pandemia.

Nem mesmo a estabilidade da inflação de serviços é um grande conforto, pois também significa menos renda nas atividades de menor especialização, num contexto de desemprego elevado.

O perfil inflacionário do ano passado, portanto, foi particularmente cruel para os pobres, drama que só foi minimizado pelo auxílio emergencial, que agora se encerra com impacto negativo na renda. Sem vacinação acelerada, o custo social poderá ser ainda mais elevado.

editoriais@grupofolha.com.br

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