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Pauta retrógrada

Apoiado em 2018 por Bolsonaro, movimento dos caminhoneiros ameaça de novo o país

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No movimento de 2018, caminhoneiros em frente ao estádio Mané Garrincha, em Brasília - Andre Coelho - 3.jun.18/Folhapress

Com a paralisação de 2018, que durou 11 dias e ameaçou até a continuidade do fornecimento de itens essenciais como alimentos, os caminhoneiros descobriram seu poder.

Na época, o risco foi identificado tardiamente e a crise foi mal gerida pelo governo de Michel Temer (MDB), mas também já apareciam os oportunistas dispostos a aproveitar o caos para fins eleitorais.

Um desses agitadores de então hoje é presidente da República. Jair Bolsonaro, que apoiou aquela greve e ajudou a jogar mais gasolina no fogo, agora pode colher o que plantou, para o mal do país.

Por causa dos aumentos recentes do preço do diesel e com a velha cantilena de que suas reivindicações não têm sido atendidas nos últimos anos, a categoria volta a seus ensaios de intimidação.

O encarecimento dos combustíveis é um problema real, que decorre da alta dos preços internacionais do petróleo e da desvalorização cambial aguda desde a pandemia. Se o governo não tem culpa pelas cotações externas, certamente está na sua conta o mau desempenho do real, em parte associado a dúvidas quanto à política fiscal.

Não se pode controlar preços artificialmente, pois as consequências para a Petrobras seriam dramáticas. Às pressas, o governo acena com o paliativo de uma redução de tributos federais, mas o espaço no Orçamento é limitado e seriam necessárias compensações.

O maior peso tributário, aliás, advém do ICMS estadual. Uma mudança que ajudaria a reduzir a amplitude das oscilações consistiria em fixar um valor para o imposto por litro, em vez da incidência proporcional, mas tal ideia não está nos planos dos governadores.

Também contribui para o problema o impasse que se seguiu ao tabelamento do frete adotado na época da paralisação. O tema ainda está em pauta no Supremo Tribunal Federal e não há solução iminente, inclusive porque a fixação de preços dificilmente poderá ser considerada constitucional.

Para piorar, o mercado continua com excesso de oferta de fretes, rescaldo dos incentivos para aquisições de caminhões no governo Dilma Rousseff (PT). O tabelamento também traz insegurança jurídica e incentiva grandes empresas a formarem suas próprias frotas, com consequências negativas para os caminhoneiros autônomos.

Não há saída simples, e a situação exige negociação hábil. Uma nova greve seria prejudicial para todos, pois acentuaria os riscos recessivos. A categoria tampouco terá a ganhar com radicalismo, e no momento atual é duvidoso que contará com apoio da sociedade.

A longo prazo, impõem-se investimentos pesados em logística, para que o país não continue refém de uma pauta retrógrada.

editoriais@grupofolha.com.br

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