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Dobrar o alcance

Há boas razões para adiar 2ª dose de vacinas contra Covid e atingir mais pessoas

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 Governador em exercício, Cláudio Castro (PSC), e prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (DEM), acompanham, aos pés do Cristo Redentor, o início da vacinação contra a COVID-19 na cidade
Vacinação no Rio de Janeiro - Eliane Carvalho/Governo do Estado do Rio de Janeiro

O pior cenário para o debate sobre postergar ou não a segunda dose das vacinas contra a Covid-19 seria vê-lo capturado pela polarização. A saúde pública não pode perder tempo com mais picuinhas entre os governos federal e paulista em tema que exige decisão rápida e amparada na ciência.

A Prefeitura de São Paulo decidiu que usará todas as 368,3 mil unidades de imunizante recebidas até esta quarta-feira (27) para vacinar pela primeira vez pessoas do grupo prioritário. Em comunicado, a Secretaria Municipal da Saúde informa que as segundas doses serão ministradas só com o preparado de futuras remessas.

O governo do estado cogita o mesmo e pressiona o Programa Nacional de Imunização a alterar o protocolo, ampliando o prazo do reforço para 28 dias ou mais. Argumenta-se que, na Turquia, intervalos maiores entre doses da Coronavac induziram eficácia até maior que os 50,4% anunciados aqui.

Diante da escassez de vacinas, fruto da incúria do governo Jair Bolsonaro —que chega ao acúmulo de retardar a resposta sobre o interesse em 54 milhões de doses adicionais do produto do Butantan—, existem sem dúvida boas razões em favor da postergação.

Não faria sentido manter metade do ínfimo estoque na prateleira quando há mais vacinas por chegar; melhor imunizar o máximo de pessoas já e adiar por pouco tempo a segunda dose.

O repique da epidemia, de volta ao patamar de mil mortes diárias, o advento de uma mutação que parece tornar o coronavírus mais transmissível, talvez mais letal, e a perspectiva de colapsos hospitalares constrangem autoridades a tomar medidas ousadas. Assim já decidiu o Reino Unido, e outros países estudam seguir o exemplo.

No caso da vacina Covishield, da iniciativa AstraZeneca/Oxford, há evidência científica de que o prazo entre doses pode ser de até 120 dias.

Dos testes clínicos realizados com o imunizante da Sinovac/Butantan, não foram publicados resultados para avaliar qual o grau de proteção proporcionado pela primeira dose, embora o comando do Butantan mostre confiança.

Além disso, percalços até aqui ocorridos na importação de matéria-prima sugerem cautela ao contar com a chegada de novos suprimentos em tempo para o reforço.

O problema no Brasil ainda é a quantidade insuficiente de vacinas. O foco de todos os governos —federal, estaduais e municipais— deve permanecer em contratar mais unidades e acelerar a vacinação, que começa ainda lentamente. A postergação da segunda dose, de objetivos meritórios, deve ser encarada como paliativo.

editoriais@grupofolha.com.br

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