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Escolhas difíceis

Justifica-se priorizar docentes e policiais, mas decisões exigem transparência

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Aula presencial em escola de São Paulo, no mês de fevereiro - Rubens Cavallari/Folhapress

Estabelecer quais grupos populacionais ou profissionais devem receber primeiro vacinas contra a Covid-19 não é tarefa trivial. Os dilemas voltam a debate com a decisão do governo paulista de incluir professores e policiais, a partir de abril, no contingente prioritário.

Existe razoável consenso sobre princípios a nortear tais decisões. Os objetivos primeiros são conter o avanço de infecções e mortes, imunizando pessoal de saúde para garantir hospitais operantes e também os mais vulneráveis, como idosos e portadores de comorbidades; em seguida, manter serviços essenciais para o bem-estar da população e a atividade econômica.

A ordem nessas escalas não está fixada em pedra, podendo ser rearranjada, com certos limites, para acomodar peculiaridades locais à oferta de imunizantes. Um grupo numeroso poderá ser transitoriamente preterido em favor de outro mais restrito, se faltar vacina e as razões humanitárias para favorecê-los forem parecidas.

À luz desses axiomas, desponta como obviamente despropositada e antiética a iniciativa de empresários de transporte mineiros ao comprarem e tomarem clandestinamente vacina da Pfizer. A vergonhosa burla revelada pela revista piauí merece investigação pronta e implacável do poder público.

As escolhas do governo de João Doria (PSDB) se encontram em outro patamar, o do debate civilizado. Na lista de prioridades recomendada pelo Ministério da Saúde, trabalhadores de educação aparecem na 17ª (ensino básico) e 18ª posição (ensino superior), seguidos pelas forças da lei, entre os 27 grupos destacados.

Nada há de errado em priorizar educação e segurança entre serviços essenciais, embora o mesmo se possa dizer do setor de transportes (21ª à 25ª colocação). Chama a atenção, entretanto, que mestres e policiais paulistas tenham passado à frente de pessoas com comorbidades ou deficiências graves.

Mais questionável parece a priorização, em São Paulo, de agentes carcerários, agrupados com forças de segurança, mas não da população prisional. Na relação do ministério, que segue diretrizes da Organização Mundial da Saúde, ambos —carcereiros e presidiários— aparecem juntos, por óbvio, vez que se expõem a risco similar.

Compete ao governador e a seus conselheiros justificarem com toda a clareza tais decisões para a opinião pública, em respeito ao princípio da transparência.

editoriais@grupofolha.com.br

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