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Liberdade de imprensa se degrada no Brasil de Bolsonaro, mostra relatório global

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O presidente Jair Bolsonaro é acompanhado por jornalistas em Brasília - Pedro Ladeira - 23.ago.20/Folhapress

Se a liberdade de imprensa fosse uma espécie biológica, ela estaria na lista de animais ameaçados no Brasil, na subcategoria EN (em perigo), apenas uma antes da CR (em perigo crítico). Depois disso, pelos critérios da União Internacional para Conservação da Natureza, vem a lista dos já extintos, como tiranossauros e pássaros dodô.

É que a liberdade de imprensa no país, pelo ranking deste ano da ONG Repórteres sem Fronteiras, foi rebaixada da zona laranja (situação sensível) para a vermelha (situação difícil) —uma antes da preta (grave), a derradeira. É a primeira vez que entramos nesse território desde que o ranking foi criado, duas décadas atrás.

O Brasil perdeu quatro posições em relação a 2020, quando ainda ocupava a zona laranja. Passamos da 107ª posição global para a 111ª. Estamos ao lado de Bolívia, Nicarágua, Rússia, Filipinas, Índia e Turquia —nações que dificilmente seriam citadas como exemplos de boa institucionalidade.

Os otimistas podem se regozijar por não nos alinharmos a China, Turcomenistão, Coreia do Norte e Eritreia, que ocupam os últimos lugares entre 180 países analisados.

Problemas estruturais, como o número relativamente alto de jornalistas assassinados e a alta concentração proprietária das empresas que atuam no setor, fazem com que o Brasil nunca tenha frequentado a metade superior da lista.

Nos últimos anos, mais especificamente desde a eleição de Jair Bolsonaro para o cargo de presidente, a situação se deteriorou.

Multiplicaram-se os processos judiciais abusivos movidos contra jornalistas, assim como os ataques verbais contra profissionais desferidos por simpatizantes do presidente, quando não pelo próprio.

Há intenção deliberada desse grupo de destruir a credibilidade da imprensa que não lhe é dócil nem laudatória —se alguém mostra que você está mentindo, a melhor estratégia de defesa é atacar a reputação de quem revela essa verdade inconveniente.

Bolsonaro e seus seguidores passarão, cedo ou tarde. Isso poderá ajudar o Brasil a superar a fase mais aguda de perigo em que se encontra, mas não será o bastante para colocá-lo na parte superior do ranking, que se deve almejar.

A tarefa depende tanto de avanços materiais (melhoria da infraestrutura de apoio à informação) como institucionais (eficiência do Judiciário). A batalha vale a pena.

Dado o caráter instrumental da liberdade de imprensa para todo tipo de avanço social, não é uma coincidência que os países que lideram os rankings de qualidade de vida, democracia, educação, riqueza ou saúde ocupem também as mais altas posições na lista do Repórteres sem Fronteiras.

editoriais@grupofolha.com.br

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