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O que a Folha pensa CPI da Covid

O papel da CPI

Comissão mantém pressão sobre Bolsonaro, mas precisa juntar pontas da apuração

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Sessão da CPI da Covid - Adriano Machado/Reuters

Não é desprezível o impacto produzido até aqui pela Comissão Parlamentar de Inquérito criada pelo Senado para investigar a atuação do governo Jair Bolsonaro no enfrentamento da crise sanitária.

A negligência do presidente e de seus auxiliares já era patente antes do início dos trabalhos, há três meses. Desde então, depoimentos e documentos reunidos pela CPI trouxeram detalhes chocantes da inépcia com que foram conduzidas as negociações para aquisição de vacinas contra a Covid-19.

Fabricantes como a Pfizer ficaram meses à espera de resposta das autoridades para suas ofertas. Um parecer jurídico chegou a apontar o desconhecimento da língua inglesa como desculpa para a demora nas tratativas com um consórcio liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O trabalho da CPI explorou a extensão das atividades do gabinete paralelo formado por Bolsonaro com ministros, charlatães e apaniguados para difundir tratamentos ineficazes e minar os esforços de médicos e cientistas na linha de frente do combate ao coronavírus.

Nas últimas semanas, descobriu-se também que atravessadores, militares da reserva e um pastor evangélico encontravam as portas do Ministério da Saúde abertas para negociar imunizantes e comissões, mesmo sem exibir qualquer prova de que tinham como entregar as doses prometidas.

Ainda resta muito a esclarecer sobre a atuação desses aventureiros e suas conexões com os partidos políticos que sustentam o governo Bolsonaro no Congresso, mas surgiram novos elementos para avaliar a ruinosa gestão do general Eduardo Pazuello na pasta da Saúde.

Prorrogada por mais 90 dias, a comissão deverá continuar fazendo barulho no segundo semestre. É essencial, porém, que aproveite o período para juntar as pontas soltas de sua investigação sem perder a visão de conjunto que dará sentido ao seu trabalho.

Os indícios de corrupção que se tornaram o foco principal da atenção da CPI precisam ser elucidados, mas tornaram-se evidentes também as limitações dos senadores para desenvolver o tipo de trabalho investigativo metódico capaz de desfiar o novelo à sua frente.

Dada a omissão subserviente do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do procurador-geral da República, Augusto Aras, diante dos desmandos do chefe do Executivo, coube à comissão parlamentar oferecer um contraponto veemente ao negacionismo e à desfaçatez.

Mas a CPI só cumprirá bem sua tarefa se ao final oferecer um relatório capaz de esclarecer a verdade e definir responsabilidades, abrindo caminho para a aplicação das punições que a lei reserva aos que traíram a confiança da sociedade em meio à tragédia.

editoriais@grupofolha.com.br

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