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Telhados de vidro

Datafolha mostra Bolsonaro associado à corrupção, tema indigesto para oponentes

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Jair Bolsonaro fala à imprensa após encontro no STF - Adriano Machado/Reuters

A mais recente pesquisa nacional do Datafolha dimensionou o estrago que as denúncias de corrupção no Ministério da Saúde fizeram a Jair Bolsonaro, eleito com uma pretensa plataforma de combate à impunidade na vida pública.

Pretensa, é sempre bom ressalvar, já que falamos do líder de um clã envolvido com práticas nebulosas, como “rachadinhas”, cheques mal explicados e milícias. No poder, Bolsonaro esqueceu rapidamente o que pregava.

Livrou-se do ícone maior da Lava Jato, Sergio Moro, e depois da própria operação, patrocinando a volta da figura do procurador-geral da República aliado ao Planalto.

Em nome de evitar o risco de um impeachment, apoiou a tomada do Congresso pelo centrão, que apenas está começando sua jornada com propostas como a por ora barrada PEC da Impunidade.

Tudo isso, contudo, pode parecer algo um tanto abstrato para a população. Suspeita de roubo em negociação com vacinas, não. Com a tragédia da pandemia e a revelação de desmandos por imprensa e CPI da Covid, a credibilidade do moralismo bolsonarista ruiu.

O Datafolha aferiu que 70% dos brasileiros acham que há corrupção no governo. Para 63%, ocorrem malfeitos na Saúde; para 64%, o presidente soube de tudo isso.

Não deveria surpreender, dada a vulgaridade com que o mandatário respondeu ao questionamento da CPI acerca do relato do deputado Luis Miranda (DEM-DF) —o parlamentar disse ter ouvido de Bolsonaro que os “rolos” da Saúde eram assunto do líder do governo na Câmara; o presidente não levou o caso à Polícia Federal e será investigado por prevaricação.

Os últimos anos foram de declínio institucional do chamado lava-jatismo, que teve início com a descoberta de um esquema gigantesco de desvios na administração petista e contribuiu para o descrédito geral do mundo político.

Assim, apesar da percepção negativa que ajuda a piorar sua avaliação, Bolsonaro conta com adversários cujos telhados envidraçados são tão ou mais vistosos quanto o seu —ainda que o dano a quem está no poder sempre seja maior.

Não constitui novidade que o PT, mesmo com as decisões judiciais recentes favoráveis a Luiz Inácio Lula da Silva, queira evitar tratar do assunto no seu planejamento para a campanha de 2022.

No passado, a legenda também usou o discurso anticorrupção de forma demagógica, como arma para a conquista do poder —e é bom que isso seja reconhecido hoje.

Uma abordagem mais madura do tema não pode se confundir, porém, com a leniência. Há fortes incentivos para tanto entre as principais forças políticas, na situação e na oposição.

editoriais@grupofolha.com.br

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