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Cruzada insana

Bolsonaro agora sabota a vacinação de crianças e incentiva ataque a servidores

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O presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira/Folhapress

Em novo capítulo da sabotagem à gestão da pandemia, Jair Bolsonaro quer promover uma cruzada das crianças, ao custo de expor meninas e meninos ao risco de morte por Covid-19. A campanha perversa, além do mais, facilita a disseminação do vírus entre aqueles que se ocupam de cuidados infantis, de parentes a professores.

Bolsonaro faz o que pode para dificultar a vacinação infantil, autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Difunde o medo, pretende criar empecilhos burocráticos e incentiva a perseguição de técnicos que aprovaram a medida sanitária. É secundado pelo bajulador Marcelo Queiroga, que ocupa a cadeira de ministro da Saúde.

Depois que a Anvisa aprovou o uso do imunizante em crianças de 5 a 11 anos, providência que chamou de "inacreditável", o mandatário disse que a aplicação das injeções requereria receita médica.

Queiroga determinou que a vacinação será objeto de consulta e audiência públicas até 4 de janeiro, com decisão no dia seguinte. A tentativa de sabotagem é óbvia.

Quanto mais atrasar a campanha, mais estudantes voltarão às escolas sem suas doses de proteção. Bolsonaro assume o risco de disseminar a doença entre cerca de 20,5 milhões de crianças, mais suas famílias e próximos.

Técnicos do comitê de imunização da Saúde, médicos e cientistas apoiaram a decisão da Anvisa. Agências similares nos Estados Unidos e na União Europeia aprovaram a providência em outubro e novembro, respectivamente. Os brasileiros são adeptos da imunização; levaram seus adolescentes em massa aos postos de saúde.

Como se não bastasse, Bolsonaro anunciou que pediu, "extraoficialmente", o nome de quem aprovou a vacina para crianças, "para que todo mundo tome conhecimento [de] quem são essas pessoas e obviamente forme seu juízo".

Foi como se convocasse suas milícias para uma campanha de difamação. Mas houve mais, como era fácil prever —uma torrente de ameaças de morte contra servidores. A Anvisa pediu à Polícia Federal, ao Gabinete de Segurança Institucional e à Procuradoria-Geral que investiguem esses criminosos.

O Brasil e o mundo correm o risco de uma nova onda de Covid-19, causada pela variante ômicron, de potencial nocivo ainda pouco conhecido. Recomenda-se prudência e disciplina para abater a epidemia ou conter seus repiques.

A doença Bolsonaro, entretanto, não tem cura. A propaganda da morte continua, agora sob a pose farisaica de defesa do bem-estar das crianças contra efeitos adversos do imunizante. Pior, o mandatário convoca suas falanges para atacar funcionários de Estado que conseguem ainda realizar suas tarefas de modo racional.

Trata-se de aversão ao trabalho, ojeriza à razão e desprezo pela vida.

editoriais@grupofolha.com.br

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